Aura Figueira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Aura Figueira
Aura Figueira
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, com uma pós-graduação em Ciências da Documentação e da Informação, variante de Biblioteconomia. É professora de português dos ensinos básico e secundário. 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Agradecia que me esclarecessem relativamente à função sintática dos adjetivos na frase «O livro lê-se a um ritmo veloz e ávido.» O nome ritmo exige, neste contexto, complemento do nome? Parece que sim, uma vez que, se os retirarmos da frase, esta deixa de fazer sentido. Ou haverá outra interpretação?

Muito obrigada, desde já. 

Resposta:

     O vocábulo ritmo tem características que permitem que o consideremos um nome dependente (¹), isto é, necessita de uma expressão que lhe complete o sentido:

     *O livro lê-se a um ritmo.

     Assim, na frase em análise, os adjetivos «veloz e ávido» desempenham a função sintática de complemento do nome e não a de modificador restritivo do nome, uma vez que este é opcional.

 *(símbolo de frase não aceitável)

 

(¹)RAPOSO, Eduardo et al. (orgs).Gramática do Português. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2013. 

Dicionário Terminológico

Pergunta:

Em primeiro lugar, deixem-me agradecer o quanto a vossa ajuda é preciosa para todos (alunos e professores). Agora, gostaria que me ajudassem a esclarecer uma dúvida. Na frase «Mas hoje, vendo que o que sou é nada», a palavra «nada» é um pronome indefinido ou um substantivo? Como explicar a diferença entre ambos?

Obrigada.

Resposta:

    Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, a palavra nada é um pronome indefinido quando empregado em frases negativas, e é esta a única forma de distinguir o nome nada do pronome indefinido nada.

     Assim, na frase «Mas hoje, vendo que o que sou é nada»¹, o vocábulo destacado tem de ser classificado como nome, atendendo a que a frase em que se insere é afirmativa.

 

¹A frase é um verso do poema de Fernando Pessoa, «A criança que fui chora na estrada.», que transcrevemos:

A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou;

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou.

 

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou

A vinda tem a regressão errada.

Pergunta:

Na frase «desencadeando antipatia e recusa da aproximação entre os mortais quando o caos aparece no horizonte», qual é a função sintática de «entre os mortais»? Complemento do nome de «aproximação» ou modificador do grupo verbal de «desencadear»? 

Grata pela atenção.

Resposta:

O vocábulo «aproximação» é um nome que rege preposição (entre), necessitando, portanto, de um constituinte a completar-lhe a significação. Além disso, a expressão «entre os mortais», na frase, não pode ser eliminada sem que a frase deixe de fazer sentido, situação que não se verificaria se fosse eliminado um modificador.

Deste modo, conclui-se que a expressão «entre os mortais», neste contexto, desempenha a função sintática de complemento do nome¹ «aproximação». 

 

¹Segundo o Dicionário Terminológico, o complemento do nome é o «Complemento selecionado por um nome. O complemento do nome pode ser um grupo preposicional (oracional ou não oracional) ou, menos frequentemente, um grupo adjetival. Um nome pode seleci...

Pergunta:

Numa enumeração de várias palavras antecedidas pelo ablativo «pelo», este tem de ser repetido ou é usado apenas antes da primeira palavra e nas seguintes usa-se o artigo definido? Por exemplo, «a casa foi usada pelo Pedro, pela Fernanda e pela Vitória» ou «a casa foi usada pelo Pedro, a Fernanda e a Vitória»?

Grato

Resposta:

    A expressão em apreço desempenha a função de complemento agente da passiva, introduzido pela preposição por, sendo possível a ocorrência de vários termos coordenados: «a casa foi usada pelo Pedro, a Fernanda e a Vitória». Neste caso, parece um pouco estranha devido ao facto de os elementos coordenados serem vários e de géneros diferentes. Veja-se como seria mais aceitável uma frase como «A casa foi usada por pais e filhos durante décadas.», que apresenta igualmente termos coordenados e ligados à preposição.

    No entanto, afigura-se-nos mais correta a repetição da preposição (contraída com o respetivo determinante artigo definido) que, justamente por se tratar do complemento agente da passiva, como atrás foi referido, o introduz obrigatoriamente: «a casa foi usada pelo Pedro, pela Fernanda e pela Vitória».

Pergunta:

A palavra actor é grave ou aguda? Eu pensava que era grave, pois o a da penúltima sílaba é aberto (pelo c). Mas, pelo AO, a palavra passa a ser escrita ator. Pelas regras de acentuação, se fosse grave tinha de levar acento no a (/átor/). Portanto, é aguda. Qual é a resposta correcta?

Obrigado.

Resposta:

    A palavra ator – sem a consoante c, conforme a sua nova grafia, pós-Acordo Ortográfico de 1990 [Cf. Base IV: Das sequências consonânticas] − é aguda (ou oxítona), pois a sílaba tónica, a sílaba acentuada, é a última, embora o «a» da primeira sílaba seja pronunciado de forma aberta. O mesmo acontece em invasor, por exemplo, outra palavra aguda em que o a também é aberto e não há dúvidas quanto à sua pronúncia.

Quanto às principais regras de acentuação, é possível relembrá-las aqui.