Aura Figueira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Aura Figueira
Aura Figueira
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, com uma pós-graduação em Ciências da Documentação e da Informação, variante de Biblioteconomia. É professora de português dos ensinos básico e secundário. 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Na frase «Quem manda sou eu.», partindo do princípio de que «quem manda» é o predicativo do sujeito, como é que devemos classificar esta oração?

Resposta:

    Na frase «Quem manda sou eu», a oração «Quem manda» cumpre uma função sintática tipicamente atribuída a um nome/sintagma nominal, classificando-se, pois, como subordinada substantiva.

    Assim, quer desempenhe a função de sujeito, como nos parece ser o caso, quer de predicativo do sujeito («Eu sou quem manda»), consideramo-la uma oração subordinada substantiva relativa sem antecedente¹, visto ser introduzida pelo vocábulo quem, um pronome relativo sem antecedente expresso. 

 

Fontes:

¹ MATEUS, Maria Helena Mira et al. - Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, 2003, pp. 675-676

CUNHA, Celso; CINTRA, Luis Filipe Lindley

Pergunta:

Tenho uma dúvida em relação ao emprego da preposição. Quando utilizamos o verbo preferir, sabemos que ele é transitivo indireto e utilizamos a preposição a, e que o verbo desobedecer é transitivo indireto e exige a preposição a.

Porém, no emprego de preferência e desobediência é necessário o emprego da preposição?

O que preciso estudar para dominar a técnica que lida com isto?

Fico grato.

Resposta:

Tanto preferência como desobediência obrigam à utilização de preposição para uma correta construção frásica:

«Ele tem uma nítida preferência pela matemática

«A desobediência à lei é punida nos tribunais.»

Preferência ocorre com a preposição por e desobediência com a preposição a, seguidas de nome. 

Se consultar um bom dicionário, a partir dos exemplos que aí são apresentados, consegue identificar o tipo de construção utilizada com a palavra em dúvida. Pode igualmente consultar um dicionário de regência nominal (Francisco Fernandes, Dicionário de Regimes de Substantivos e Adjetivos) ou recorrer a uma gramática.

Pergunta:

Gostaria de saber qual é o género da palavra Fanta (o refrigerante) e se há plural. Fiz uma pesquisa no site e vi que a palavra Sprite pode ser masculina ou feminina. É possível ter maiores esclarecimentos?

Desde já, muito obrigada.

Resposta:

Em português, a maioria dos nomes terminados em -a são femininos, pelo que o vocábulo Fanta, embora seja o nome próprio da marca de uma bebida (palavra feminina), segue esta regra.

Neste caso, como em muitos outros do mesmo tipo, houve uma generalização e, por um processo de derivação imprópria, o nome próprio «Fanta» passou a ser utilizado como nome comum, designando já não a marca mas a bebida, podendo, portanto, utilizar-se no plural, à semelhança de outras marcas que também já adquiriram o mesmo estatuto:

«Bebemos umas fantas e eles, umas pepsis.»

 

Cf. 20 nomes de objetos que devemos às marcas

Pergunta:

Gostaria de saber a transitividade do verbo posar: «Ele posou para a revista». «Ele posou de galã».

Nos dois casos o verbo é transitivo indireto?

Resposta:

O verbo posar é intransitivo:

«O modelo posava e os alunos pintavam.» 

e transitivo indireto, regendo, apenas, segundo os dicionários consultados, a preposição para:

«O grupo posou para a fotografia.»

Não se encontram registos de posar regendo a preposição de.

 

CASTELEIRO, João Malaca (dir.), Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, Lisboa: Texto Editores, 2007 

Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. João Malaca Casteleiro, coordenador (Academia das Ciências de Lisboa). Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa e Editorial Verbo, 2001

Pergunta:

Na frase «Há quinze anos que escrevo livros apenas sobre esse abraço.», qual a classe e a subclasse de «que»?

Grata pela atenção.

Resposta:

Em frases do tipo da apresentada, o que é um pronome relativo equivalente a quando, segundo Bechara:

«Este papel repetidor do relativo que parece estar presente em construções do tipo há (faz) dias (meses, anos, tempo, etc.), em que já não temos um advérbio, mas substantivo cujo significado léxico aponta para o campo das expressões denotadoras de espaço ou percurso de tempo:

Há dias que não o vejo,

em que também, pelo sentido, o relativo equivale a quando.»

 

BECHARA, Evanildo, Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009

 

Cf. HÁ ou À: a razão de tantos erros nisto