Aura Figueira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Aura Figueira
Aura Figueira
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, com uma pós-graduação em Ciências da Documentação e da Informação, variante de Biblioteconomia. É professora de português dos ensinos básico e secundário. 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber qual das seguintes frases é correta: «Sonhei que ele morria.» ou «Sonhei que ele morreu.»

Também gostaria de ser esclarecida quando à pronúncia de "gostos": «Fiz gôstos no facebook.» ou «Fiz góstos no Facebook.»?

Obrigada.

Resposta:

   A frase «Sonhei que ele morria.» é correta: ambas as formas verbais se referem a factos passados; o pretérito perfeito do indicativo (sonhei) indica uma ação passada, concluída, e pretérito imperfeito do indicativo (morria) designa um processo em curso, ou seja, «morria» tem aqui o sentido de «estava a morrer».

  A frase «Sonhei que ele morreu.» não é aceitável porque, sendo ambas as ações passadas e concluídas, a segunda teria de ser anterior à primeira, o que obrigava à utilização do pretérito mais-que-perfeito do indicativo, simples ou composto, tempo que indica uma ação passada ocorrida antes de outra ação também passada: «Sonhei que ele morrera/tinha morrido.»

   Relativamente à questão da acentuação do nome gostos, como já foi respondido anteriormente,  este «plural pronuncia-se com vogal fechada: gostos /ô/.»¹

 

¹ Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa

CUNHA, Celso &...

Pergunta:

Agradeço me informem se os termos «usuário» e «esteriotipagem» podem ser utilizados também em língua portuguesa.

Obrigada.

Resposta:

    A palavra usuário tem sentidos diferentes em português europeu e em português do Brasil. Em português europeu, é menos comum a sua utilização já que designa aquele que possui ou frui alguma coisa por direito proveniente do uso; no português do Brasil, é muito habitual, pois refere-se a quem utiliza um computador ou frui de um serviço público ou particular (~UTENTE). 

    Quanto ao vocábulo estereotipagem, não existe esteriotipagem, é, como se pode encontrar em qualquer dicionário, um processo usado nas tipografias pelo qual se converte uma composição com caracteres móveis numa matriz fixa, com os relevos das letras, possibilitando a tiragem de diversos exemplares, portanto, o  ato ou efeito de estereotipar. Com a informatização, este processo terá praticamente deixado de existir, supomos.  

in Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa + 

Pergunta:

Na frase «Ninguém faz ideia de quão imenso é o universo», a oração «de quão imenso é o universo» é subordinada completiva ou subordinada substantiva relativa?

Obrigada pela ajuda. 

Resposta:

    A oração «de quão imenso é o universo» é subordinada substantiva completiva, desempenhando a função sintática de complemento do nome «ideia». Este nome seleciona complemento, pois rege preposição, precisando, portanto, de um constituinte que complete a sua significação.

Pergunta:

Apareceu nas redes sociais um livro,"A Cosinheira das Cosinheiras", de Rosa Maria; procurei na BN, e vejo que uma 5.ª ed. é de 1900. Um amigo meu teima em como está mal escrito. Eu digo que está correto, em relação à época. Não me recordo é com que Acordo Ortográfico este s passou a z.

Muito obrigada.

Resposta:

    Tratando-se de um título de 1900, está correto, pois, segundo o Novo Diccionario da Língua Portugueza, de Eduardo de Faria, 2.ª ed., de 1851, coexistiam as formas: «cosinha» e «cozinha». Como a ortografia do português não dispunha ainda, então, de um padrão normalizado – aconteceu apenas com a reforma de 1911 –, o que prevalecia era «escrever para o ouvido», com a decorrente flutuação na grafia das palavras, porque, apesar de se procurar registar o som da fala, a representação não obedecia a nenhuma norma. Para além disso, existia também uma ortografia de tradição etimológica e «pseudo-etimológica», isto é, a busca da origem não diretamente do latim, mas por intermédio do francês, que era então imitado.

  O Formulário Ortográfico de 1911, que veio dotar a língua portuguesa de regras de escrita como nunca tivera, foi oficializado por portaria em setembro de 1911. Esta reforma da ortografia, a primeira oficial em Portugal, foi profunda e representou uma completa modificação no aspeto da língua escrita conhecida até então. A grafia do vocábulo «cozinha» e seus derivados com «z» ter-se-á fixado nesta altura, surgindo o registo da palavra «cozinheira», apenas com «z», no Novo Diccionario da Língua Portuguesa, de Candido de Figueiredo, 3,ª ed., 1920.

N.E. – Desde cedo, os jornais da época noticiaram e comentaram esta primeira iniciativa de normalização e simplificação da escrita da língua portuguesa. Por aí pode acompanhar-se a preparação de impressores e tipógrafos para receber a reforma em vigor desde 1911; por aí perpassa o terçar de armas a favor de e contra, que chegou a ser impugnado por petição...

Pergunta:

Na frase «Nem aqui me deixa a sua odiosa presença», o adjetivo «odiosa» é complemento do nome ou modificador restritivo do nome?

Muito obrigada!

Resposta:

     Na frase dada, o adjetivo «odiosa» desempenha a função sintática de modificador restritivo do nome, visto que não é selecionado pelo nome, apenas o limita.