Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, a palavra nada é um pronome indefinido quando empregado em frases negativas, e é esta a única forma de distinguir o nome nada do pronome indefinido nada.
Assim, na frase «Mas hoje, vendo que o que sou é nada»¹, o vocábulo destacado tem de ser classificado como nome, atendendo a que a frase em que se insere é afirmativa.
¹A frase é um verso do poema de Fernando Pessoa, «A criança que fui chora na estrada.», que transcrevemos:
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.