Uma controvérsia suscitada pelo consulente Paulo Medeiros, a propósito do texto «Não faz sentido», com a devida réplica da autora, Ana Martins.
Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas – Estudos Portugueses, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e licenciada em Línguas Modernas – Estudos Anglo-Americanos, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Mestra e doutora em Linguística Portuguesa, desenvolveu projeto de pós-doutoramento em aquisição de L2 dedicado ao estudo de processos de retextualização para fins de produção de materiais de ensino em PL2 – tais como A Textualização da Viagem: Relato vs. Enunciação, Uma Abordagem Enunciativa (2010), Gramática Aplicada - Língua Portuguesa – 3.º Ciclo do Ensino Básico (2011) e de versões adaptadas de clássicos da literatura portuguesa para aprendentes de Português-Língua Estrangeira.Também é autora de adaptações de obras literárias portuguesas para estrangeiros: Amor de Perdição, Peregrinação, A Cidade e as Serras. É ainda autora da coleção Contos com Nível, um conjunto de volumes de contos originais, cada um destinado a um nível de proficiência. Consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e responsável da Ciberescola da Língua Portuguesa.
Uma controvérsia suscitada pelo consulente Paulo Medeiros, a propósito do texto «Não faz sentido», com a devida réplica da autora, Ana Martins.
Na frase «Sou homem: nada do que é humano me é estranho», qual a função sintática que assume a palavra "nada"? Como se pode qualificar, em termos de oração, «nada do que é humano»?
Nada do que é humano me é estranho.
1. Análise sintática
O constituinte sublinhado é sujeito da frase, realizado por um sintagma nominal cujo núcleo é o pronome «nada», complementado por um sintagma preposicional «do que é humano», que tem por núcleo a preposição «de» na forma contraída com o pronome demonstrativo «o» (é pronome demonstrativo porque é comutável com «aquilo» Cf. Cunha, C.; Cintra, L., Nova Gramática do Português Contemporâneo, Ed. Sá da Costa, 1986, pp. 340-341). Por sua vez, «o» é determinado pela oração relativa «que é humano», ou seja, o antecedente do pronome relativo «que» é «o»).
2. Análise semântica
Trata-se de uma negação quantificacional, realizada pela expressão intrinsecamente negativa «nada». (Cf. Raposo, E. B. P et al. Gramática do Português, FCG, 2013, p. 483). O constituinte negativo exprime em si mesmo não só um valor de operador negativo, mas também o valor próprio de quantificador: «nada» = exclusão de todas as coisas de um conjunto. «Nada» designa um conjunto (vazio) visado no sintagma preposicional «do que é humano» = de todas as coisas que são humanas/de todas as coisas que podem ter características humanas.
Dado que não consigo obter uma informação aprofundada sobre orações subordinadas substantivas relativas, gostaria de um esclarecimento vosso. No caso concreto, saber se a primeira oração do excerto apresentado se classifica como tal, exercendo função sintática de sujeito: «Os que adotaram estas tecnologias mais cedo na vida, ou que as usam de forma mais constante, aprenderam com o tempo a permitir que grandes quantidades de informação fossem processadas antes de mudar o foco de atenção para outra coisa.». Já agora, gostaria também de uma opinião acerca da segunda oração «ou que as usam de forma mais constante». Obrigada!
Os que adotaram estas tecnologias mais cedo na vida ou que as usam de forma mais constante aprenderam com o tempo a permitir […]
O constituinte sublinhado cumpre a função de sujeito. O sujeito da frase integra um Sintagma Nominal (SN) realizado por um pronome demonstrativo «o» (Cf. Cunha, C.; Cintra, L., Nova Gramática do Português Contemporâneo, Ed. Sá da Costa, 1986, p. 340-341);
De acordo com Mateus, M. H. M. et al. Gramática da Língua Portuguesa, Caminho, 2003 p. 669, trata-se de um determinante não seguido de N, ocorrendo elipse nominal). Este SN é o antecedente das duas orações relativas adjetivas restritivas «que adotaram estas tecnologias mais cedo na vida» e «que as usam de forma mais constante», coordenadas pela conjunção «ou», que explicita o nexo de disjunção inclusiva entre esses dois termos coordenados.
Na frase «Quanto mais dorme, mais sono tem», como poderemos classificar a oração «quanto mais dorme»? E qual a função sintática que ocupa relativamente ao verbo «tem»? É modificador do Grupo Verbal? Encontrei alguns sites em português do Brasil que discorrem um pouco sobre Subordinadas Adverbiais Proporcionais, mas esta é uma classificação que não se encontra no nosso Dicionário Terminológico.
Quanto mais dorme, mais sono tem.
Na Nomenclatura Gramatical Brasileira, a oração sublinhada é considerada uma oração subordinada adverbial proporcional. (Cf. Cunha, C.; Cintra, L., Nova Gramática do Português Contemporâneo, Ed. Sá da Costa, 1986, p. 605.)
No entanto, orações deste tipo não respondem positivamente aos testes sintáticos que confirmam a subordinação adverbial, a saber:
(i) Não são deslocáveis: *Mais sono tem, quanto mais dorme.
(ii) Não são topicalizáveis: *É quanto mais dorme que mais sono tem.
Deste modo, ambas as orações são consideradas Orações Proporcionais em Mateus, M. H. M. et al., Gramática da Língua Portuguesa, Caminho, 2003 (p. 765-766). Estas orações integram conectores descontínuos correlativos, que marcam a relação de proporcionalidade.
Neste sentido também, encontramos em Raposo, E. B. P et al. Gramática do Português, FCG, 2013 (p.2164-21...
Gostaria de saber se a análise sintática da seguinte frase está correta: «Sabia-se portador de uma mensagem importante». Sujeito – nulo subentendido; predicado – portador de uma mensagem importante; complemento oblíquo – portador de uma mensagem importante; complemento do nome – mensagem importante; modificador restritivo do nome – importante.
Agradeço antecipadamente as vossas correções e os vossos esclarecimentos.
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