Notícia da agência Lusa difundida por vários jornais e canais de rádio e televisão em Portugal, a propósito do 20.º aniversário do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, com a assinatura da jornalista Cláudia Páscoa.
Lisboa, 11 jan (Lusa) – O Ciberdúvidas, projeto dedicado à língua portuguesa sem paralelo no mundo lusófono, debate-se cada vez com mais dificuldades de sobrevivência, em vésperas de completar 20 anos, disse à agência Lusa um dos seus fundadores, o jornalista José Mário Costa.
«Estamos com muitas, muitas dificuldades, a ponto de ter ponderado muito seriamente fechar o Ciberdúvidas. E só não aconteceu graças à generosidae de um grupo de amigos [mobilizados na campanha SOS Ciberdúvidas]», acrescentou José Mário Costa, em declarações à agência Lusa.
«É muito difícil continuar a fazer o que fazemos há 20 anos – e o Ciberdúvidas é um espaço único na lusofonia – sem qualquer apoio oficial ou privado, além de um professor colocado pelo Ministério da Educação», frisou José Mário Costa.
Para o cofundador do projeto, a situação é tanto mais desmotivante, por o Ciberdúvidas fazer serviço público sem que seja reconhecido ou incentivado como tal.
José Mário Costa cita mesmo o exemplo de Espanha, onde existe a Fundação para o Espanhol Urgente (Fundéu), que envolve a rádio e televisão públicas, a agência de notícias Efe, a Real Academia Espanhola, o Instituto Cervantes e um banco privado [no seu patrocínio mecenático].
«Esta estrutura todos os dias faz uma recomendação aos órgãos de comunicação social de Espanha e da América Latina de expressão castelhana sobre o bom uso do idioma nacional [com regulares propostas aos estrangeirismos que proliferam por via do inglês, particularmente]. Para este serviço de grande incidência na atualidade informativa, a Fundéu conta com um alargado corpo de linguistas; e, no entanto, não disponibiliza as valências alargadas que o Ciberdúvidas assegura», exemplificou.
Questionado sobre os custos do Ciberdúvidas, José Mário Costa adiantou que estes não atingem os 4000 euros por mês, sublinhando que, de momento, o organismo não pode pagar a colaboradores, por falta de verbas.
Criado pelos jornalistas João Carreira Bom, já falecido, e José Mário Costa, o Ciberdúvidas constituiu-se como a primeira iniciativa no género, via internet, a 15 de janeiro de 1997.
Com a filosofia de um jornal, nas suas áreas de abordagem delimitadas, o Ciberdúvidas é um espaço que junta, ao mesmo tempo, o esclarecimento, a informação, a reflexão e também a polémica em torno da língua oficial dos Estados-membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Entre as suas atuais 13 rubricas temáticas, consta o consultório linguístico, que responde diariamente a pessoas que o consultam, na sua maioria do Brasil e de Portugal, sobre o bom uso da língua portuguesa, e sobre as suas variantes regionais e geográficas pelo mundo fora, disse José Mário Costa.
A média das consultas específicas ao [consultório do] Ciberdúvidas ronda as cem por semana, indicou, com mais de um milhão de acessos mensais.
Nos 20 anos de existência, o Ciberdúvidas acumulou perto de 40 mil textos, entre respostas e artigos da mais variada natureza, que são de livre acesso ao público.
Este acervo vai de uma montra de livros e de obras sobre a língua, a uma antologia de 220 escritores e poetas lusófonos de todos os tempos, «que escreveram sobre o nosso idioma comum», recorda o jornalista.
Para José Mário Costa, o tempo de vida do Ciberdúvidas não foi isento de dificuldades [ver Textos Relacionados, ao lado] nem de algumas interrupções, devido aos constrangimentos financeiros para a manutenção de um serviço desta natureza e alcance, que é gracioso, sem quaisquer fins comerciais ou de lucro.