« (...) Não vejo textos em português ou em língua nacional africana sem palavras de uma ou de outra, razão pela qual apelo à realização de estudos que adoptem um único alfabeto, num esforço agregador. (...)»
[O vice-Presidente angolano] Bornito de Sousa, [falando] durante o workshop provincial sobre "Toponímia, princípios e directrizes, referência de memória no desenvolvimento urbano", referiu que a lei fixa, entre as regras, que as localidades existentes desde o tempo colonial devem manter a grafia latina, tais como Cabinda, Cuanza-Norte e Cuando-Cubango.
A título de exemplo, justificou que «se um funcionário escrevesse Catete com C e outro com K, daria, no modo de pesquisa, localidades diferentes».
Neste sentido, defendeu que, para a atribuição de um nome em língua nacional africana, se devia consultar o Instituto de Línguas Nacionais ou uma instituição académica para evitar erros. «Se pretendemos escrever em língua nacional, que se faça correctamente», salientou.
Desmistificou a ideia de se colocar um K numa palavra para dar a ideia de um nome em língua nacional, resultando em grafias que não são nem português, nem qualquer outra língua, criando-se um «crioulo de uma letra», no caso o K.
Apontou como outra incongruência a grafia da moeda nacional, o kwanza, que faz o plural kwanzas, quando as línguas nacionais fazem o plural por prefixação e não por sufixação. Para Bornito de Sousa, as línguas faladas em Angola, incluindo o português, são nacionais, sendo a portuguesa património imaterial da humanidade.«Questiono por que não alinham o alfabeto das línguas nacionais africanas aos das outras de origem [banta]»?
«Não vejo textos em português ou em língua nacional africana sem palavras de uma ou de outra, razão pela qual apelo à realização de estudos que adoptem um único alfabeto, num esforço agregador», disse. O vice-Presidente da República valorizou os esforços do executivo na atribuição e generalização do número de polícia ou de aplicativos que permitem localizar endereços no país a partir de qualquer parte do globo terrestre.
«Os problemas não são exclusivos de Angola. Há casos nos Estados Unidos da América e na África do Sul, onde um número elevado de cidadãos não tem endereço certo», acrescentou.
Atribuição dos topónimos
A governadora da província de Luanda disse que o seminário sobre toponímia serviu para relançar as bases para a promoção do processo de alteração e atribuição da toponímia às unidades, aglomerados territoriais, às vias de comunicação», com base na investigação histórica, na observância dos postulados legais, na auscultação prévia dos órgãos consultivos das administrações municipais, distrito urbanos e comunas.
Ana Paula de Carvalho apelou a participação activa dos munícipes no processo da toponímia da cidade. Dada a complexidade e os meios técnicos requeridos para a operação, a governante salientou que não se ambiciona concluir todo o processo numa só sentada, mas gerar resultados tangíveis enquanto a iniciativa se desenrola».
Segundo a governadora, «não se pode ambicionar ter cidades inteligentes se as unidades territoriais não possuírem identificação».
Lançou o desafio às administrações municipais para, no âmbito das celebrações do 46.º Aniversário da Independência Nacional, apresentarem propostas válidas para a correcção ou atribuição de toponímias em algumas circunscrições territoriais, particularmente em zonas padronizadas. Apelou para que as administrações, até à data da efeméride, proponham a correcção de topónimos de bairros, ruas que atentem contra a moral pública, hábitos e costumes.
Defendeu maior divulgação da Lei de Bases da Toponímia e do Regulamento da Lei da Toponímia, para melhor designação das localidades.
O director do Instituto de Planeamento e Gestão Urbana de Luanda (IPGUL), Hélder José, que abordou o tema «Organização e planeamento, a aplicação da toponímia e números de polícia», defendeu que a implementação da toponímia «deve ser vista numa perspectiva de continuidade». «As cidades cresceram de forma espontânea, mas esse crescimento nem sempre foi acompanhado de planeamento», explicou.
O arquitecto sublinhou que a atribuição do número de polícia «não precisa esperar pela requalificação dos bairros», mas frisou que «é preciso regular a forma como se constrói as casas e estas devem ser construídas numa perspectiva colectiva». «A localização de qualquer cidadão deve estar devidamente identificada», defendeu, anunciando que está a ser feito um levantamento de todos os topónimos da província de Luanda.
Cf. Harmonização das línguas bantas dificultada pela fonética e grafia + Línguas Nacionais desobedecem norma + Lista de antigos nomes coloniais portugueses
Notícia publicada no Jornal de Angola no dia 25 de setembro de 2021, escrita segundo a norma ortográfica de 1945.