O número 9 da Revista da Associação Portuguesa de Linguística, lançado a 27 de outubro de 2022, é composto por 20 artigos selecionados dos que foram apresentados no XXXVII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, realizado por videoconferência nos dias 28 e 29 de outubro de 2021. No seu conjunto, os textos que se divulgam nesta publicação refletem, como assinalam Fátima Silva e Isabel Pereira na nota prévia, «a pluralidade de objetos e de modelos teórico-metodológicos que caraterizam a investigação atualmente realizada em Portugal na área da Linguística e em áreas de interface com a Linguística, inscrevendo-se em áreas diversas, entre as quais se contam a Análise do Discurso, Aquisição (L1 e L2), Fonologia, Linguística Computacional, Linguística de Texto, Semântica e Sintaxe».
Dos vários artigos publicados neste número, destacam-se: o estudo de caso sobre a consciência e o conhecimento explícito associados a tarefas de pontuação em situações de escrita académica, de Ana Luísa Costa (Instituto Politécnico de Setúbal); o trabalho sobre a aquisição e desenvolvimento de estruturas que envolvem movimento não argumental (A’), nomeadamente estruturas interrogativas e relativas em crianças com Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) com diferentes níveis de competência cognitiva, de Raquel Costa e Ana Lobo (Universidade Nova de Lisboa) e as reflexões sobre: (i) o estado da investigação realizada no âmbito da aquisição do português europeu como L2, com foco específico na sintaxe, de Ana Madeira (Universidade Nova de Lisboa) e Nélia Alexandre (Universidade de Lisboa) e (ii) as necessidades dos docentes de Português como Língua Não Materna, de Cristina Martins (Universidade de Coimbra), Fátima Silva (Universidade do Porto) e Jorge Pinto (Universidade de Lisboa).
No artigo da autoria de Ana Luísa Costa, designado «A pontuação como janela para a consciência sintática», conclui-se que a pontuação em adultos tem quantitativamente menos erros do que em crianças já em fase de escrita compositiva, sendo que estes erros estão associados a contextos sintáticos complexos, como o deslocamento de constituintes, desafios típicos da escrita académica. Outro aspeto interessante referido neste artigo é a indicação de que o desenvolvimento no uso da pontuação e consciência necessária para o seu uso proficiente «são capacidades metassintáticas relativamente independentes da capacidade de verbalizar explicações sobre a pontuação que se usa».
No estudo realizado por Raquel Costa e Ana Lobo é sugerido que as crianças com PEA apresentam dificuldades em compreender estruturas interrogativas e relativas. As complicações observadas estão associadas às complexidades do movimento não argumental. Estes resultados são um argumento a favor da corrente que defende o carácter desviante da linguagem em crianças com PEA.
No que toca às reflexões apresentadas, no caso específico do texto «Aquisição e desenvolvimento linguístico: investigação e aplicações – sintaxe de português europeu L2», de Ana Madeira e Nélia Alexandre, é feita uma descrição de alguns estudos que têm sido realizados no âmbito da sintaxe do português europeu como L2, destacando-se no final o que ainda falta fazer nesta área, de modo a abrir caminho a novas investigações. Relativamente às considerações realizadas por Cristina Martins, Fátima Silva e Jorge Pinto, no texto «O que ainda não sabemos e precisávamos de saber para o ensino de Português Língua Não Materna», faz-se um levantamento de algumas falhas detetadas no conhecimento de aspetos relevantes para o ensino de português como língua não materna, tanto a nível da investigação como a nível prático, aproveitando para, no final do artigo, apontar alguns caminhos no sentido da sua mitigação.
Em síntese, este número da Revista da Associação Portuguesa de Linguística disponibiliza um leque muito abrangente de estudos e reflexões na área da linguística, nomeadamente, da linguística portuguesa, sendo que os trabalhos apresentados são o resultado das investigações desenvolvidas por vários grupos em áreas consideradas fundamentais, tais como a aquisição de L1 e L2, o bilinguismo e o ensino de português como língua não materna.
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