No plano da chamada lusofonia e do português como denominador comum linguístico, Angola tem-se distinguido em duas vertentes, pelo menos: na política, porque tem oferecido bastante resistência, explícita ou tácita, a medidas de coordenação linguística entre os países de língua portuguesa; e, no plano demográfico, apresenta números significativos quanto à propagação e ao enraizamento do português como idioma materno. Neste contexto, a obra Português de Angola: Fonologia, Sintaxe e lexicografia, uma edição eletrónica feita através da Home Editora, parece como um trabalho que revela a personalidade do português de Angola (PA), sem negar a unidade fundamental do idioma.
Como se lê na apresentação, trata-se de um conjunto de estudos resultantes das atividades de investigação do Projeto VAPA (Variedade do Português de Angola), o qual foi criado em 2015 na Escola Superior Pedagógica de Bengo em Angola. Para os coordenadores da obra, Márcio Undolo, Alexandre Timbane e Guadêncio Kimuenho «o principal desafio que se coloca ao VAPA tem a ver com o estatuto do PA, o combate ao preconceito linguístico com relação PA e o seu reconhecimento para que faça parte da norma a usar nas escolas» e, por isso, pretendem sublinhar a necessidade da gramaticalização, gramatização e dicionarização quer do PA, quer de outras variedades do português, dando especial atenção às variedades dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) e de Timor Leste.
O livro tem prefácio do linguista Tjerk Hagemeijer (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), que realça o pioneirismo deste livro como sinal da mobilização do saber académico para dar ao PA a codificação compatível com o crescimento do número de falantes monolingues em português. Esta tendência levará, como antevê Hagemejer, a que «Angola venha a ser um polo cada vez mais destacado da língua portuguesa e [a] que, assim, contribua para fazer do português uma língua mais genuinamente pluricêntrica e menos bicêntrica» (p. 13/14). Segue-se uma introdução dos coordenadores do livro, que se referem sucintamente à sua estrutura em quatro secções: introdução ao estudo do PA, que compreende um texto; fonologia, representada por dois textos; sintaxe, com quatro; e lexicografia, que compreende dois artigos.
O Português de Angola constitui, portanto, um marco na história da própria elaboração do português como língua nacional de Angola. Este processo tem passado por muita discussão, muitas vezes por fases de enorme contestação às iniciativas de coordenação linguística no seio da CPLP. Mas é também manifestação da originalidade angolana na "nacionalização" do português, ao encontro, afinal, do que se faz, por outras vias e com outra metodologia, por exemplo, em Moçambique.
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