A publicação Padrão Linguístico em Moçambique, organizada pelo Instituto Nacional de Estatística de Moçambique (INE) e financiada pelo Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), pretende apresentar uma “fotografia” da situação linguística e social de Moçambique. Como é explicado no sumário executivo, este trabalho tem como objetivo geral «descrever as tendências do padrão linguístico e explorar as suas implicações sociopolíticas» (pág. 18). Nos últimos anos, segundo dados dos Censos de 2017, tem-se verificado uma tendência de expansão da língua portuguesa e retração das línguas bantas, sobretudo nas áreas urbanas. Neste sentido, estudos como este servem como um contributo para a descrição da situação linguística de Moçambique e para a elaboração, avaliação e revisão de políticas e programas sociais e económicos que tenham a questão linguística como uma das suas componentes essenciais.
Este projeto divide-se entre uma abordagem quantitativa, assente numa análise estatística dos dados dos Censos realizados em 2017, e uma análise qualitativa que tem em consideração os programas focados em questões relacionadas com a língua. Os temas dominantes aqui discutidos são: principais línguas maternas da população; línguas faladas com mais frequência; conhecimento da língua portuguesa e habilidades (competências) de leitura e de escrita.
No que diz respeito às principais línguas maternas da população moçambicana, este estudo indica que, entre 1980 e 2017, existe um aumento da percentagem da população que tem o português como língua materna (PLM), ou seja, a percentagem de falantes de PLM passou de 6% em 1997 para 16,5% em 2017, as projeções indicam que, em 2027, a população moçambicana com PLM poderá situar-se em 21,6%. Em contraste, tem-se verificado uma queda no número de falantes de línguas bantas, que em 2017 se situava nos 79,2%. Uma análise mais especifica dos grupos de falantes de línguas bantas demonstra que a maior parte da população declarou o Emakhuwa como língua materna (LM). Imediatamente a seguir, está o português (16,5%) e só depois aparecem outras línguas bantas como, por exemplo, o Xichangana (8,6%), o Elomwe (7%), o Cisena (6,9%) e a Cinyanja (5,6%).
No que concerne ao conhecimento da língua portuguesa, este trabalho mostra que mais de metade dos moçambicanos com 5 anos ou mais sabe falar português, ainda que alguns apenas possuam um conhecimento básico. Neste sentido, 83,1% dos habitantes das áreas urbanas declarou que sabe falar português, ao passo que nas áreas rurais apenas 45,3% admite ter conhecimentos desta língua. Em comparação com os censos realizados em 2007, os dados de 2017 evidenciam uma tendência de crescimento dos falantes que declaram saber português.
Relativamente às "habilidades" (competências) de leitura e escrita da população moçambicana, os dados publicados nesta obra indicam que o português é, de facto, a língua de ensino e aprendizagem da leitura e escrita. Para além disto, metade da população com 15 anos ou mais sabe ler e escrever em Moçambique. Relativamente a situações anteriores a 2017, observa-se um crescimento na taxa de alfabetização dos moçambicanos na ordem dos 23,5 pontos percentuais.
Resumindo, esta publicação pode ser uma fonte relevante para estudantes, investigadores ou um público geral interessado em questões associadas à geografia das línguas em Moçambique.
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