Mais do que «um problema de tradução», um caso que «é muito mais um problema de saúde pública.» Na língua portuguesa, e não só… Texto publicado no jornal "i" de 21/01/2013.
Se um produto é destinado ao mercado português, a sua rotulagem deve ser feita em língua portuguesa. Há legislação sobre o assunto, trata-se de um direito básico do consumidor nacional.
Isto vem a propósito de um «removedor de cotão» que me chegou às mãos. Objecto muito popular e acarinhado por toda a classe média, a qual, como se sabe, não tem senão cotão nas algibeiras, o que quer dizer que não tem dinheiro nos bolsos, nem um vintém, o «removedor de cotão», de chinesíssima origem e de olhos em bico como a EDP, é uma peça cilíndrica, dotada de fitas adesivas. Funciona bem, mas tem um problema de origem, de etiqueta e de cultura. No caso, trazia as seguintes instruções de utilização:
«Lint vertical para relaxe operação. Lá deveria ter gama entre a lâmina e a face têxtil. Carling a pele do têxtil como também removendo o lint. Lá tenha três vário para escolha de acordo com o têxtil. A redonda lâmina grande pode remover lint depressa.»
Problema de tradução? Não. É muito mais um problema de saúde pública. Na língua portuguesa, nas questões de rotulagem, na EDP ou na loja do chinês, vale tudo. Estamos entregues à bicharada.
In jornal i de 21 de janeiro de 2013, na coluna do autor Ponto do i, com o título original "Cotão". Manteve-se a antiga ortografia, seguida pelo jornal.