«É sabido que o léxico de uma língua deixa transparecer o modo como a comunidade vê e conceptualiza o mundo que a rodeia, nas suas diferentes vertentes. Desta forma, não é difícil entender que através do estudo do léxico podemos ter uma idéia mais clara dos preconceitos de vária ordem (raciais, sexuais, religiosos, etc.) que permeiam a sociedade. A língua portuguesa não é excepção, sendo fácil detectar no seu léxico unidades que mostram, por exemplo, os preconceitos raciais. O tratamento das unidades que designam conceitos relacionados com raça e/ou etnia nos dicionários merece uma reflexão mais aprofundada. Deverão estas unidades ser tratadas sem qualquer reserva no dicionário? Compete ao lexicógrafo definir o que é socialmente correcto? Deverá assumir uma atitude meramente descritiva em relação aos dados que descreve? A sua atitude deve ser independente do tipo de dicionário que prepara? Com este trabalho, pretendo, com base na análise de um conjunto de artigos retirados de dicionários de língua, abordar a questão do tratamento dos preconceitos raciais/étnicos em dicionários portugueses, gerais e de aprendizagem, contribuindo, deste modo, para (re)lançar a discussão sobre o papel descritivo e/ou pedagógico dos dicionários de língua.»
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Artigo da linguista portuguesa Margarita Correia na revista brasileira Alfa – Revista de Linguística, v. 50, n.º 2, 2006. Segue a norma ortográfica de 1945.