Faz parte das regras do jornalismo: as pessoas, todas as pessoas, têm tratamento idêntico. Idêntico no respeito individual de cada um, independentemente do seu estatuto, condição social, cultural, económica, política ou qualquer outra. Por isso, na imprensa, está há muito fora do uso a anteposição dos cargos ou dos títulos académicos, salvo em circunstâncias especiais - e nunca por razões de reverência.
Mas o contrário também é regra. Ninguém deve ser tratado de forma depreciativa ou de algum modo diminuidora da sua identificação pública. As pessoas, todas as pessoas, têm o direito a serem chamadas pelo seu nome e pelo seu apelido completos.
É no mínimo de mau gosto tratar alguém só pelo nome, ou só pelo apelido, ainda por cima precedido do respectivo artigo (a Natália, o Francisco, o Silva), a não ser nas excepções consagradas de figuras populares e de forte ligação afectiva pública (o Herman, o Pelé, a Amália). De mau gosto e revelador de tratamento discriminatório e abusivo, acrescente-se.
Infelizmente, é o que acontece com frequência nas televisões portuguesas, ao pior estilo dos autos da polícia, sempre (e só!...) quando se fala de gente mais desprotegida dos seus direitos mais elementares.
Voltou a suceder em diversas reportagens com os cento e tal trabalhadores que os alemães da Grundig querem despedir em Braga. Tão chocante quanto a diferença, sempre, em relação aos outros, os de lá de cima. Os que põem e dispõem da vida alheia.