« (...) Renomear a Gronelândia como «Terra Vermelha, Branca e Azul» introduz um nome que é emblemático da identidade nacional americana, refletindo as cores da bandeira dos EUA. (...) »
A recente proposta legislativa do representante dos EUA Buddy Carter para renomear a Gronelândia como Red, White and Blueland ("Terra Vermelha, Branca e Azul"; cf. The Independent, 12/02/2025) apresenta um caso único de análise onomástica. Esta iniciativa, ligada à potencial aquisição da Gronelândia pelos Estados Unidos, levanta várias considerações sob uma perspetiva toponímica [*].
Contexto histórico do nome da Gronelândia
A origem do nome Gronelândia relaciona-se com o explorador nórdico Erik, o Vermelho, que, de acordo com as sagas islandesas, nomeou a ilha de Grænland para atrair colonos, apesar de sua paisagem gelada. Esta denominação foi uma escolha estratégica, destinada a criar uma impressão favorável da terra.
Implicações da proposta de renomeação
Renomear a Gronelândia como «Terra Vermelha, Branca e Azul» introduz um nome que é emblemático da identidade nacional americana, refletindo as cores da bandeira dos EUA. De um ponto de vista toponímico, a mudança significa o deslocamento de um nome com significado histórico e cultural, ligado ao património indígena e nórdico, para outro que simboliza o patriotismo americano e a reivindicação territorial.
Considerações culturais e linguísticas
Os nomes servem como veículos de herança cultural e identidade. A proposta de renomeação pode ser percebida como uma imposição de uma identidade externa sobre o contexto cultural e histórico existente da Gronelândia. Tal mudança poderia desconsiderar as tradições linguísticas da população indígena inuíte, cujos próprios nomes para a terra, como Kalaallit Nunaat, que significa «Terra dos Gronelandeses», integram a sua identidade cultural.
Impacto onomástico na identidade e perceção
O ato de renomear pode influenciar tanto a autoperceção quanto a perceção externa de um lugar. Adotar um nome como «Terra Vermelha, Branca e Azul» poderia remodelar a identidade da Gronelândia na arena global, alinhando-a mais intimamente com os símbolos nacionais americanos. No entanto, isso também pode levar à resistência das populações locais e da comunidade internacional, que podem ver a mudança como um desrespeito às ricas narrativas históricas e culturais da ilha.
Desafios Práticos e Linguísticos
✓ A Gronelândia é um dos nomes de lugar mais reconhecidos do mundo – amplamente utilizado em atlas, documentos oficiais e bases de dados globais.
✓ O novo nome «Terra Vermelha, Branca e Azul» é artificialmente longo, ao contrário da maioria dos nomes de lugar compostos por uma única palavra.
◊ Questão toponímica: um nome composto por várias palavras é incómodo para uso internacional e provavelmente seria abreviado ("Terra RWB"? "Blueland"?), causando inconsistências nos sistemas de nomenclatura globais.
Conclusão
Numa perspetiva onomástica, a proposta de renomear a Gronelândia como «Terra Vermelha, Branca e Azul» é uma questão complexa que entrelaça considerações de herança cultural, identidade e simbolismo geopolítico. Embora o novo nome reflita elementos patrióticos americanos, é essencial ponderar sobre o significado histórico e cultural inscrito no nome original e as potenciais implicações que tal mudança poderia ter na identidade da população indígena e na perceção global da ilha.
[* N. E. – O título inglês original – "I Am Feeling Blue… But Should Greenland Be Too?", literalmente «sinto-me azul... mas a Gronelândia também tem de estar?» – tira partido do duplo sentido de blue, que além de significar «azul» também ocorre na aceção de «triste».]
Tradução de um texto em inglês, publicado no blogue e-Onomastics em 15 de fevereiro de 2025. O título inglês original – "I Am Feeling Blue… But Should Greenland Be Too?", literalmente «sinto-me azul... mas a Gronelândia também tem de estar?» – tira partido do duplo sentido de blue, que além de significar «azul» também ocorre na aceção de «triste».