O facto de eu afirmar que a grafia oficial é embondeiro, justificada pelo notável foneticista Gonçalves Viana pela sua origem africana, não quer dizer que não haja dicionarizada a variante imbondeiro (p.ex., de facto, na "Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira"). Embora respeite muito a grande competência do professor e poliglota Artur Bivar, neste ponto vale mais para mim a de Gonçalves Viana, o maior linguista português até a data. Para contrapor ao "Dicionário Português-Umbundo", citado pelo consulente Mário César Borges d'Abreu, posso apontar o "Dicionário Português-Cinyanja", pelos missionários da Companhia de Jesus (Lisboa, 1964), que só traz embondeiro (o cinyanja é também uma língua banta, mas de Moçambique). Apesar de eu pouco ou nada ser versado em línguas africanas, julgo que o étimo talvez esteja relacionado com a própria palavra bunda, que aparece, p.ex., no título (abreviado) da obra "A Língua Bunda ou Angolense e Diccionario [...] da Língua Congueza", por Fr. Bernardo Maria de Cannecatim (Lisboa, 1859). Nas próprias designações da língua bunda surgem variantes com as sílabas iniciais am- (ambundo) e/ou um (umbundo), provenientes, julgo eu, duma nasal inicial diversamente interpretada. Veja-se ainda a grafia 'Ngola (por Angola), que às vezes se encontra, demonstrativa da instabilidade da vogal nasal reduzida que o 'n deve representar. Se é como eu penso, foneticamente an- e en- (ou am- e em- não interessa) estarão mais próximo da pronúncia indígena que aquela com in- (im-), do ponto de vista da articulação, com vogal foneticamente menos vizinha da nasal às vezes transcrita por 'n. Igualmente em tetense, língua chi-nyungue, idioma falado no distrito de Tete e em toda a vasta região do Zambeze inferior, segundo Victor José Courtois, S.J., na sua gramática (nova edição, Coimbra, 1900), se usa, com semelhante valor, creio eu, o ñ, p.ex. em ãgóma, batuque, ou ñk'asi, cágado. Na "Gramática da Língua do Congo (Kikongo) / Dialecto kisolongo", de Lourenço Tavares, antigo missionário do Congo (2.ª edição, Luanda, 1934), se lê, "mutatis mutandis", o que acima ficou dito acerca deste problema; só que o Autor escreve am- (p.ex. ampuena = ãpuena, 'grande) acerca de m/n, o qual, quando precede qualquer das outras [consoantes], tem um som especial, que não pode graficamente representar-se, e que só o uso poderá bem ensinar. [...] Também, como acontece em português, serve esta consoante para nasalar as vogais a, e, i, o, u (porém mais levemente que na nossa língua).
Por outro lado, mesmo dentro da nossa língua vernácula, era frequente em Garrett, Camilo, etc. (e mais ainda em autores anteriores ao século XIX) haver confusão entre o en- e o in-, até em palavras usuais, como entender, envolver, embora (cujo prefixo latino in- sofria ou não a evolução normal para en-). Ainda hoje, popularmente, se ouve então/intão (em vez de então), para não falar do caso de nasalação espontânea ocorrido em inté.
E nada mais posso ou sei dizer acerca das palavras embondeiro/imbondeiro, a não ser que a afirmação de uma «soar mal» (ou «pior») que a outra se trata de atitude não científica, meramente subjectiva.