O aperfeiçoamento da Inteligência Artificial leva-nos coletivamente a repensar a justeza do velho aforismo «ver para crer» e a procurar estratégias que nos poupem a simulacros enganosos. Toda a prudência é pouca, e um conhecido professor universitário tornou-se também vítima de falsificação de imagem, tendo-se visto na contingência de recorrer ao Facebook para esclarecer a situação, lesiva do seu bom nome.
Talvez por precipitação, porque é caso para preocupação e nervosismo, no registo da declaração baixou com certeza as guardas contra outra intrusão: a do erro sintático que decorre de empregar «trata-se de...» erroneamente no plural ("tratam-se"), porque trata-se é sempre expressão impessoal (não tem sujeito) e, portanto, o verbo tem forma de singular (trata).
É incorreção repetida, quantas vezes devida provavelmente a ter-se em mente a regra do se passivo, que obriga ao plural quando a expressão a que se reporta aparece no plural. Daí que se diga bem e sem hesitação «vendem-se casas» (ainda que muitos hoje aceitem «vende-se casas»).
Embora observar esta regra seja louvável quando se trata de verbos transitivos, é preciso evitar exageros. Na verdade, se o verbo tiver associada uma preposição (verbo de regência), fica bloqueada a possibilidade de concordância e o verbo fica invariavelmente no singular. Por isso, diz-se e escreve-se «gosta-se de cinema», como também se diz e escreve, sem remoque, «gosta-se de filmes» (e nunca «gostam-se de filmes»), em que de é a preposição causadora do mencionado bloqueio.
A legenda na imagem foi fiel ao que era efetivamente dito, mas bom seria que a tecnologia permitisse corrigir o deslize e apresentasse o que se deve dizer: «trata-se de imagens», com «trata-se» no singular.