« [Em 1923, o Tratado de Lausana] reconhece internacionalmente a República da Turquia, liderada por Mustafa Kemal Atatürk, que procuraria romper com a tradição otomana, criando as bases de um Estado moderno, também através do investimento em educação secular (estima-se que a Turquia contasse com menos de 10% de alfabetizados) e em planificação linguística. (:::)»
O turco é língua nacional e única oficial da Turquia; é língua materna de cerca de 70 milhões de pessoas, principalmente nesse país, mas também no norte de Chipre, Bulgária e, em menor número, na Grécia, Arménia, Roménia e Macedónia do Norte (partes do Império Otomano); é também falado como língua materna por milhões de emigrantes turcos, na União Europeia e nos Estados Unidos. É a maior das línguas túrquicas ou turcomanas, que a linguística moderna considera uma família particular, e não um ramo das línguas altaicas.
As cerca de 30 línguas túrquicas vivas são faladas por 230 milhões de pessoas, desde os Balcãs e a Anatólia, até à Sibéria e à parte mais ocidental da China (o salar é falado sobretudo nas províncias de Qinghai e Gansu). Os falantes de turco constituem 40% dos falantes destas línguas. Entre elas incluem-se o azerbaijano ou azeri (oficial do Azerbaijão e do Daguestão, Rússia), o nogai (falado no sudoeste da Rússia), o tártaro (República do Tartaristão, Rússia), o usbeque (oficial do Usbequistão), o cazaque (oficial do Cazaquistão, cooficial da República de Altai, Rússia), o iacuto (falado na Iacútia ou República Sakha, Rússia). Refiram-se, ainda, o turcomeno (oficial do Turquemenistão) e o quirguize (oficial no Quirguistão).
O turco é ainda oficial e dominante na "República Turca do Chipre do Norte" (reconhecida apenas pela Turquia); também é cooficial do Chipre, Bulgária, Kosovo e municipalidades da Macedónia do Norte. Além do turco antigo (de que inscrições em pedra dos séculos VI e VIII, no que hoje é a Mongólia, constituem os mais antigos registos), a linguística da língua turca reconhece três períodos principais na sua história: 1) o turco oguz, ascendente direto do turco atual, trazido pela dinastia Sejúlcida para a Anatólia, entre os séculos VI e XI; 2) o turco otomano, língua do Império Otomano, que em 950, aquando da adoção do islamismo pelos Khanatos Kara-Khanid e Sejúlcidas, passou a sofrer fortes influências do árabe e do persa; 3) o turco moderno, codificado a partir da década de 1920.
Após a Grande Guerra, em 1920, foi assinado o Tratado de Sèvres entre o Império Otomano e os Aliados (França, Rússia e Grã-Bretanha, Itália, Estados Unidos e Portugal), que consagrou a partilha do Império Otomano entre os Reinos da Grécia e da Itália, o Império Britânico e a República Francesa e que foi anulado pelo Tratado de Lausana, de 1923, entre Reino Unido, França, Itália, Japão, Grécia, Roménia, Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos ou da Jugoslávia e a Turquia. Este Tratado põe termo à Guerra de Independência Turca (1919-1923) e reconhece internacionalmente a República da Turquia, liderada por Mustafa Kemal Atatürk, que procuraria romper com a tradição otomana, criando as bases de um Estado moderno, também através do investimento em educação secular (estima-se que a Turquia contasse com menos de 10% de alfabetizados) e em planificação linguística.
Em 1929, para substituir o alfabeto árabe, entrou em vigor o alfabeto turco, variante do alfabeto latino, que instituiu uma escrita de base fonológica, transparente. Em 1932, foi criada a TDK, "Associação da língua turca", que promoveu estudos e criação de recursos para a língua turca, introduzindo-lhe profundas reformas – e.g. substituição sistemática de palavras de origem persa e árabe por neologismos construídos in vitro a partir de raízes das línguas túrquicas. A TDK constituiu-se como verdadeiro "laboratório" de planificação linguística, cujos efeitos importa conhecer.
Crónica publicada no Diário de Notícias em 17 de outubro de 2022.