Texto publicado no jornal i de 9/07/2012, na coluna do autor, Ponto no i, à volta de erros nos media portugueses.
«Soltar a franga», expressão popular brasileira, significa romper amarras, desinibir-se. Em consequência, assumir abertamente uma opção sexual.
Por tropical ou lusa experiência, sabe-se que as altas temperaturas contribuem favoravelmente para «soltar a franga». Foi assim que um incêndio (…) acabou por constituir um bom exemplo de como os meios de comunicação social [portugueses] podem «soltar a franga» e perder o controlo da semântica. Impelidos pelas chamas e pelo calor no local, quase todos eles disparataram sobre o assunto. A Lusa mencionou que o sinistro tinha ocorrido numa «fábrica de frangos»; a TVI, numa «fábrica de abate».
É certo que actualmente os frangos não merecem muito respeito, pelo seu aspecto ou sabor. Mas ainda não são fabricados. O abate também não é fabricado. É igualmente certo que os locais onde os frangos são criados não podem ser chamados de "aviários" (nestes deve haver espaço que dê uma certa liberdade às aves), como também não se trata de "matadouros" (que os dicionários definem como locais para o abate de gado cuja carne é para consumo público). Daí a enorme confusão do noticiário, que tudo consumiu: ovos, frangos, postos de trabalho, investimentos e a língua portuguesa.
In jornal i, de 9 de julho, na coluna semanal do autor, Ponto no i, sob o título original Soltar a franga. Manteve-se a grafia original da norma de 1945.