1. A imigração brasileira em Portugal representa atualmente cerca de um terço da população estrangeira residente no país, num total de cerca de 400 000 cidadãos em situação legal. A distribuição das comunidades brasileiras um pouco por todo o país levou a que nos espaços públicos tenha passado a ser comum ouvir-se a sonoridade doce da variante do português do Brasil. Esta realidade traz para a consciência ativa as muitas diferenças que existem em diferentes planos linguísticos entre a variante brasileira e a europeia. Um deles é o da pronúncia: só para deixar um exemplo, recordemos que o nome próprio Portugal se pronuncia em português europeu como "purtugál" e em português brasileiro, geralmente, como "portugáu". São muitas as diferenças existentes nos graus de abertura das vogais, no contraste entre fonemas que se articulam explicitamente ou que se elidem ou na articulação de sons particulares. A compresença destas duas variantes coloca também em evidência as muitas diferenças lexicais, fruto de percursos evolutivos distintos: recorde-se o já muito comentado contraste entre o terno brasileiro e o fato português. O mesmo acontece no âmbito sintático, sendo marcas distintivas a colocação dos pronomes clíticos ou o contraste entre o uso dos pronomes tu e você em referência ao interlocutor. Será interessante observar a médio prazo se o contacto diário entre as duas variedades trará consequências linguísticas convergentes. Sensível às muitas questões relacionadas com a pronúncia, o professor brasileiro Rafael Rogolon redigiu um artigo, transcrito com a devida vénia, que sistematiza algumas das diferenças, sentidas do ponto de vista de um brasileiro.
2. O lexema moçambicano maningue, que significa "(em) grande quantidade", pode ser usado no quadro de diferentes classes de palavras: como advérbio, pronome indefinido ou determinante indefinido, possibilidades que nem sempre se encontram previstas nos dicionários, como se explica nesta resposta. Outros temas são também abordados na atualização do Consultório: "Virtualmente, eventualmente e aparentemente", "«Do tempo em que» e «de quando»", "Orações relativas explicativas e orações coordenadas explicativas", "Linhas mestras e linhas-mestras" e "«João admira os mesmos pintores que Caio»".
3. O vocábulo bastante tem uma amplitude de usos muito diversificada, tendo a capacidade de funcionar como adjetivo, advérbio, substantivo ou mesmo quantificador, situações que são analisadas pela professora Carla Marques no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2.
4. São também as palavras que estão no centro de dois textos que consideram o léxico sob perspetivas antagónicas. Por um lado, o consultor Paulo J. S. Barata aborda a questão da formação de novas palavras, considerando o lexema epistemicídio, ainda não dicionarizado e usado com o sentido de «morte do conhecimento». Por outro lado, avalia-se o desgaste semântico de certas palavras exemplificado com base no verbo aziar, usado, em sentido popular, com o valor de «sentir ira ou enfado, registado pela professora e ecritora Dora Gago, num artigo onde analisa a escassez léxical dos mais jovens.
5. A escritora e empreendedora digital Sandra Baldé traz-nos a perspetiva da língua e suas variantes enquanto instrumento de hierarquização, de marginalização e até de racismo, uma situação que urge mudar porque, defende, «[a] diversidade de sotaques dentro da língua portuguesa é um fascínio e eu gostava que fosse unânime pensar desta forma, sem exotismos» (artigo partilhado com a devida vénia).
6. Está aberta a receção de propostas de comunicação para o congresso Internacional Materials for Developing Communicative Ability (em português, «Materiais para o Desenvolvimento da Competência Comunicativa»), organizado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FSCH), em parceria com a MATSDA – Materials Development Association (notícia aqui).
7. A data de 23 de janeiro é o Dia da Escrita à Mão, um evento que ganha significado acrescido numa época em que a escrita digital conquistou a maioria dos usos. A escrita à mão tem sido objeto de investigações várias e tem sido sublinhada a sua importância no âmbito do desenvolvimento pessoal. Para além disso, é uma forma de arte que pode proporcionar fruição no contexto da leitura de manuscritos. Sintam-se convidados a escrever algo usando um instrumento de escrita e o papel!