Falar por metáforas
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Falar por metáforas
Com que então caiu na asneira De fazer na quinta-feira Vinte e seis anos! Que tolo! Ainda se os desfizesse... Mas fazê-los não parece De quem tem muito miolo! (João de Deus, "Dia de anos", in Poesias Líricas Completas) A metáfora não é um fenómeno acantonado apenas à literatura. É também um processo semântico, um mecanismo de conceptualizção do mundo reflectido na língua, idiossincrático de uma comunidade de falantes. Daí que haja alguma contradição em chamar metáforas mortas a expressões como pernas da mesa ou dentes do pente:...
Acordo ortográfico: tema de recurso?
Quando não há nada para discutir, discute-se o acordo ortográfico — à semelhança do que os ingleses fazem com o tempo atmosférico?Francisco José Viegas dá-nos uma visão céptica e pragmática face ao (iminente?) desfecho da questão do acordo.Se é verdade que se trata de mudanças que afectam apenas a grafia da língua — facto que é importante sublinhar —, não é menos verdade que é na norma ortográfica do português europeu que mais alterações há a registar.Questões d'aquém e d'além ortografia: acima de tudo, há que olhar para o mapa e para a...
Estudos sobre Língua Portuguesa
Vários estudos, várias épocas, vários contextos e necessidades: a descrição de diferentes dimensões da língua é trabalho sempre em recomeço. Obras de referência como Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa e Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, de que se reclama reedição urgente 1 (ver O centenário de Rebelo Gonçalves) ou obras de aplicação como Projectos de Escrita são exemplo da longevidade e vitalidade da investigação sobre a língua portuguesa.Uma área de trabalho premente é, sem dúvida, a do ensino de...
Argumentos linguísticos e um agradecimento à Fundação Vodafone e aos CTT
1. São vários os tipos de argumento que legitimam o que se diz. Usa-se "impredizibilidade", quando há boas razões para preferir imprevisibilidade. E a necessidade de harmonizar usos fundamenta o alargamento de certas convenções — veja-se o caso das maiúsculas em Dia da Alimentação.2. As Notícias focam as provas de aferição dos 4.º e 6.º anos do ensino básico em Portugal.3. Um agradecimento especial à Fundação Vodafone, na pessoa da presidente da respectiva Comissão Executiva, dra. Luísa Pestana, que renovou por mais um ano o seu...
Espelhos de palavras
Um consulente angolano quer saber se a análise gramatical que fez está correcta. Muito depende da coerência dessa descrição com a perspectiva e a terminologia escolhidas. Contudo, o poder descritivo de tais instrumentos é sempre posto à prova, podendo revelar-se a sua insuficiência; como explicar, por exemplo, a concordância com o predicativo do sujeito ou o comportamento semântico do verbo fazer na expressão fazer anos? Muitas vezes, é a imprevisibilidade de certos factores culturais que dá o toque inconfundível de uma...
O português expande-se?
1. O português expande-se, a avaliar pelas Notícias. David Graddol, linguista britânico, vaticina um aumento significativo do número de falantes até 2050, em África e no Brasil. Para prová-lo, para lá do Rio Grande do Sul, no Uruguai, torna-se obrigatório o ensino da língua portuguesa a partir do 6.º ano de escolaridade. Por ironia do destino, em Portugal, Mariano Gago, ministro da Ciência, da Tecnologia e do Ensino Superior, revela que, no quadro da União Europeia, responsáveis das universidades que aderiram ao Processo de...
O sabor da variação
Como adaptar palavras estrangeiras, que não se conformam aos padrões fonéticos e morfológicos das variedades do português? Entre os países onde se fala a língua portuguesa, as soluções podem ser diferentes; ora vejamos:— O plural de mórmon no Brasil não é bem o mesmo que em Portugal.— Como pronunciar expertise e voucher? Os estrangeirismos podem não soar de forma idêntica consoante estejamos em São Paulo, no Porto ou em Maputo.— E os latinismos? Como havemos de os proferir?É claro que este tópico acaba por encontrar o da variação em...
Acordo à vista
1. Da XII Reunião do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) resultou o compromisso do Governo português: ratificar o protocolo modificativo do acordo ortográfico. Será este o princípio do fim de uma longa discussão?2. O Brasil celebra hoje, 5 de Novembro, o Dia Nacional da Língua Portuguesa. Não era altura de Portugal aderir a esta celebração?3. Invocar e evocar — são sinónimos, parónimos ou variantes ortográficas?4. Sem dar lugar a interrogações está a renovação do apoio da Fundação...
No princípio era o latim
1. No esforço quotidiano de falar seleccionando as palavras mais certas para se dizer bem o que se quer dizer, deparamo-nos com palavras que não estando dicionarizadas, são muito usadas (pidesco); outras que sendo pouco usadas, estão plenamente dicionarizadas (tolerabilidade); e outras formas, ainda, que nem uma coisa nem outra ("distorcivo").2. Será porque se julgue que é olhando para o étimo latino das palavras em português que elas adquirem maior precisão semântica; ou será porque ainda há quem veja nessa propriedade — a...
Gatões
1. A língua é lugar de afectos e ideologias. Veja-se como certos aumentativos adquirem valores ideológicos e emotivos e outros não: um homem extremamente bem-parecido é um gatão; mas já não se apoda de ratão o homem extremamente esperto... Terreno escorregadio é também o dos diminutivos: o que será menos injurioso — dizer que fulano é um cabeçudo, ou que é um cabecinha?... 2. A língua portuguesa caracteriza-se por apresentar uma relativa uniformidade no que toca às variedades regionais dentro do território português — e, no...
