1. Em Portugal, a tensão política em torno do Orçamento do Estado para 2025 tem fornecido matéria de relevo à comunicação social, que se tem esforçado por descrever todas as movimentações dos líderes políticos e todas as suas reações. Uma das mais recentes notícias vindas a público descreve a forma como o secretário-geral do PS [Partido Socialista], Pedro Nuno Santos, lidou com os comentadores políticos afetos ao seu partido: «Pedro Nuno afasta-se do Orçamento e zurze comentadores do PS que defendem viabilização» (jornal Público). Este título faz uso de um verbo pouco frequente nas interações quotidianas: zurzir. Os seus significados têm uma grande amplitude que vai do domínio físico («golpear com chibata») ao foro psicológico («causar dor ou sofrimento; maltratar; magoar»). No caso da situação descrita no título, o sentido não será tão violento, pois a intenção da jornalista passará por referir a atitude de «repreender com severidade» (Infopédia). Curiosamente, o verbo zurzir tem a mesma etimologia do verbo cerzir, derivando ambos do verbo sarcīre («remendar, coser vestidos, reparar, consertar»). O verbo cerzir derivou da forma latina por via do latim vulgar, tendo durante um período de tempo coexistido com a forma serzir, que acabou por desaparecer, e manteve significados próximos do verbo original. Por seu turno, a forma zurzir, que se revela mais distante da sua origem etimológica, terá entrado no português por via do castelhano zurcir. A sua evolução semântica é também curiosa uma vez que perdeu os sentidos ligados ao ato de costurar e evoluiu para a descrição de ações que infligem algum tipo de dor no outro.
2. A expressão «muita água pode correr debaixo da ponte» admite muitas variantes: «por baixo da ponte», «por debaixo da ponte» ou «sob a ponte». Todavia, na rubrica Pelourinho, assinala-se o uso inesperado da expressão «abaixo da ponte» que é incompatível com o que se pretende afirmar, tal como é explicado pelo consultor Carlos Rocha.
3. A questão das classificações textuais pode ser efetuada de acordo com diferentes óticas e no contexto de diferentes quadros conceptuais. Por esta razão, um mesmo texto pode admitir diferentes classificações que o integram em diferentes tipologias textuais. Este é o caso do Sermão de Santo António, da autoria de Padre António Vieira, o qual poderá ser considerado tanto um sermão, como um texto argumentativo ou ainda uma alegoria, como se explica nesta resposta que integra a atualização do Consultório. Damos destaque também a duas respostas que se centram em textos clássicos: uma dificuldade de tradução num passo de Odisseia; a identificação de um recurso expressivo em O Sentimento dum Ocidental, de Cesário Verde. Poderão ainda ser consultadas respostas que tratam questões relacionadas com as preposições em e de usadas com o nome qualificações e com a locução prepositiva «mais de». Ainda respostas relacionadas com o uso do adjetivo senil, a vírgula antes do advérbio não duplicado, o uso de maiúsculas em nomes de cargos e a regência do verbo trazer.
4. A identificação da sílaba tónica da palavra mãezinha é o tema do apontamento da professora Carla Marques, no qual também se aborda a função do til numa palavra e a sua relação com a identificação da sílaba tónica (apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2).
5. Damos destaque na atualização aos seguintes acontecimentos:
– O lançamento do Dicionário Fonético do Português Europeu, de João Veloso, Ana Isabel Fernandes e Fátima Silva (Inovação Educativa – Reitoria da Universidade do Porto), uma publicação disponível em linha que trata, de forma visual e muito esclarecedora, questões relacionadas com a anatomia, os sons vocálicos e os sons consonânticos.
– A atribuição à escritora e jornalista Maria Teresa Horta do Prémio Rodrigues Sampaio, da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, um galardão atribuído pela primeira vez a uma mulher.