Mão-cheia e mancheia são formas corretas e têm o mesmo significado: «quantidade que se pode conter na mão, de uma só vez» (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa).
Numa obra que ainda hoje é uma referência para a norma-padrão quanto à fixação de palavras, o Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves, regista-se mão-cheia e mancheia, sem juntar apreciações negativas sobre o uso de uma ou outra forma. Assinale-se todavia que Rebelo Gonçalves acolhe como variante de mão-cheia a forma mancheia, à qual, por sua vez, corresponde a variante macheia. Vasco Botelho de Amaral (Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, 1958) também aceita como corretas as formas mancheia e mão-cheia, mas observando que «a primeira [é] mais popular».
É, pois, legítimo concluir que mão-cheia é, em Portugal, forma mais neutra, adequada a todos os registos, enquanto mancheia, que é forma correta, tem conotação mais popular.
Mais discutível é achar que mancheia é corruptela de mão-cheia1. Perante casos como o de não, que passa a nã ou na nos falares meridionais portugueses, dir-se-ia que a sequência man- de mancheia ilustra o mesmo fenómeno fonético; e, supondo o ditongo nasal anterior à sua redução a uma vogal ou mais fiel à história da palavra (na Idade Média, escreve-se mão, mas como dissílabo – "mã-o" – e ainda não com ditongo nasal), talvez se possa aceitar mancheia é uma alteração de mão-cheia, ou seja, aquilo a que se chama, numa perspetiva purista, uma "corruptela". Contudo, não é de excluir que man- seja variante bastante antiga de mão e que mancheia constitua um arcaísmo.
1 Convém assinalar que, na edição brasileira de 2001 do Dicionário Houaiss, a entrada mão-cheia (com atestações a partir de 1716) remete para mancheia (documentada a partir de 1690), o que sugere que a segunda forma é vista como preferencial ou mais corrente no Brasil. Note-se, mesmo assim, que mancheia é também comum em Portugal.