1. Em Portugal, a palavra escrutínio tem surgido com alguma frequência no discurso político associado ao momento de crise que emergiu em várias frentes. Diferentes intervenientes na cena política têm vindo a público defender um escrutínio sobre as instituições, no âmbito tanto das investigações promovidas pelo Ministério Público, que levaram à queda do governo, como do chamado «caso das gémeas», que poderá ter beneficiado de influência política. O termo escrutínio é também mobilizado no contexto de eleições e, no caso português, será usado com bastante frequência em 2024 atendendo a que num mesmo ano ocorrerão eleições legislativas antecipadas nos Açores, em Portugal e ainda eleições europeias. Escrutínio é, assim, um substantivo com uma diversidade de possibilidades significativas: de «votação por meio de boletins que se depositam numa urna» a «apuramento ou contagem dos votos entrados em urna» ou ainda «exame minucioso». Este último significado parece ser o mais próximo do valor originário da palavra, que, etimologicamente, vem do latim scrūtĭnĭum, ii, palavra que significava «ação de sondar, ato de pesquisar» e que tem como base scrūta, ōrum, cujo significado refere «roupas velhas, ferros velhos ou outros objetos de pouco valor». Da mesma família, são as palavras escrutinar, escrutar («sondar, remexer») e também esquadrinhar («buscar com cuidado e diligência»). Ao âmbito lexical pertencem também as duas novas entradas em A covid-19 na Língua: JN.1 e Pirola, que designam a nova sublinhagem do coronavírus que domina no hemisfério Norte.
2. A atualização do Consultório integra esclarecimentos a várias dúvidas recebidas pela equipa. Entre elas encontra-se a questão da natureza da partícula -se nos verbos desmoronar-se e estender-se, a construção do verbo terminar equivalente a «acabar por», a troca da terminação -am por -em, as expressões «ao largo de» e «ao longo de» e a possível diferença entre lides e lida. Por fim, trata-se a questão da abordagem didática relacionada com o uso excessivo do verbo falar, no sentido da promoção da diversidade lexical e apresentam-se formulações para indicar o destinatário no cabeçalho de uma carta formal.
3. É frequente ouvir-se a construção «*os livros que mais gostei», a qual é incorreta por não incluir a preposição de antes do pronome relativo, tal como explica a professora Carla Marques neste apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2.
4. Na Montra de Livros são apresentadas duas publicações: a obra Da didática de língua(s) ao seu ensino (Pontes Editores), organizada por Luciana Graça, Matilde Gonçalves, Luzia Bueno e Eliane Lousada, que compila um conjunto de estudos de homenagem ao professor Joaquim Dolz, docente na Universidade de Genebra, e a obra Ensinar Português Língua de Herança como Língua Pluricêntrica, organizada por Isabel Duarte, Maria de Lurdes Gonçalves e Sónia Rita Melo, onde se pode conhecer um conjunto de propostas didáticas relacionadas com o ensino do português, tendo em consideração o seu pluricentrismo.
5. Os resultados do Relatório Pisa, divulgados na semana passada, desencadearam a discussão sobre o estado do ensino e das aprendizagens em Portugal. A professora universitária e linguista Margarita Correia aborda este assunto na perspetiva dos seus resultados internacionais, num artigo aqui partilhado com a devida vénia.
6. As subtilezas do domínio de expressões alusivas a referentes masculinos nos textos de natureza jurídica dão matéria à reflexão apresentada pela professora universitária Inês Espinhaço Gomes, na qual defende a importância da seleção das palavras (texto publicado no jornal Público e aqui partilhado com a devida vénia).