A troca da terminação -am por -em é típica de muitos falares regionais de Portugal – não é exclusiva do Alentejo.
Encontra-se, por exemplo, na Estremadura, no Algarve e nos Açores. É um traço dialectal, que a língua padrão não aceita, mas que se encontra descrito na Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013-2020, p. 124-126)1:
«No campo da morfologia verbal, os dialetos (portugueses) revelam alguma tendência a fazer convergir as terminações das diferentes conjugações, novelando-as preferencialmente com as terminações próprias da 2.ª conjugação (infinitivo terminado em -er), em vários tempos e pessoas, a que correspondem diferentes distribuições geográficas [...]:
[...] (iii) As terminações em -am da 3.ª pessoa do plural do presente e do pretérito imperfeito do indicativo dos verbos da 1.ª conjugação tendem a convergir em -em, terminação da mesma pessoa e dos mesmos tempos dos verbos da 2.ª e da 3.ª conjugações [...]:
(39) a. (Falando de lobos) os animais... aqueles... o hábito... quando é para morder procurem o pescoço. (ALEPG, Cabeço de Vide, Portalegre)
b. Naquele tempo era a saia ali junto do pé! Se uma pessoa visse ali por cima [...] do artelho começava dormente, [...], se visse o joelho, desnorteava! Agora... andem nuas, ninguém liga! (ALEPG, Porches, Faro [...]
d. Não sei como é que eles apanhem aquilo. (ALEPG, Rabo de Peixe, Açores) [...]
f. Eles plantem no jardim. (ALEPG, Porto da Cruz, Madeira)»
Esta terminação pode chegar a "-im": «Eles roçavim o mato. (ALEPG, Dagorda, Lisboa)» (ibidem).
1 Nas atestações, a sigla ALEPG corresponde ao arquivo sonoro do Atlas Linguístico-Etnográfco de Portugal e da Galiza.