Tal como o consulente sugere, a expressão «na ponta da língua» é uma metáfora, tratando-se de um caso das chamadas metáforas idiomáticas, lexicalizadas ou mortas.
A própria colocação da pergunta revela que o consulente, apesar de reconhecer aí características de uma metáfora, se questionou sobre essa possibilidade, porque tal expressão entrou na linguaqem quotidiana, o que nos poderia levar a inferir que a mesma tenha perdido o seu valor metafórico.
Mas, na verdade, está aí presente o processo de deslocação do sentido de uma palavra para outra — o domínio do saber, a consciência automática de resposta (resolução do problema) e a capacidade de a verbalizar de imediato é concentrada em «na ponta da língua», mesmo pronta a sair da boca.
No entanto, não é pelo facto de esse tipo de expressões ter entrado no uso corrente que não se lhes atribua a propriedade da metáfora. Aliás, é essa a razão pela qual se chamam metáforas lexicalizadas ou idiomáticas, como nos esclarece Paula Mendes, no E-Dicionário de Termos Literários (coord. de Carlos Ceia): «A fácil aceitação da metáfora por um vasto número de indivíduos, bem como o uso recorrente que dela se faz, leva o falante a utilizá-la sem a percepção do cariz metafórico por detrás da expressão empregada no seu discurso. Uma metáfora inovadora e imaginativa torna-se, assim, uma metáfora idiomática, lexicalizada ou ainda morta. O falante já não recorre a esta figura de estilo como uma expressão de carácter metafórico, mas como um termo próprio da língua. As metáforas mortas ou idiomáticas consistem numa palavra — "folha de papel", "perna da mesa"; numa frase — "As férias estão à porta"; numa frase feita — "os professores têm a faca e o queijo nas mãos"; em expressões eufemísticas — "não tomou chá desde pequeno"; e em provérbios populares — "quem vai ao ar perde o lugar". As metáforas mortas encontram-se em vários contextos da actividade do homem e da realidade quotidiana por ele vivida.»
Por isso, embora a metáfora seja considerada a mais poética/literária das figuras de estilo, a realidade é que é, também, «um recurso recorrente da linguagem quotidiana» (idem).