Não encontro a expressão «nadar/patinar na maionese» registada em nenhum instrumento linguístico de referência, ainda que a Infopédia e o Dicionário Priberam, por exemplo, refiram que o vocábulo maionese pode significar «[Figurado] Reunião ou confusão de diversas coisas».
Deste modo, e apesar de, como referi, não se encontrar registada, esta é uma expressão bastas vezes ouvida, com uma utilização relativamente recorrente. Significa, um pouco na linha do sentido figurado veiculado pelos citados dicionários, dependendo do contexto, «dizer ou pensar algo sem lógica ou confuso; imaginar algo que não condiz com a realidade; delirar; cometer um erro». Aliás, para além de «nadar na maionese» e «patinar na maionese», podemos encontrar também «andar na maionese», «viajar na maionese» e «escorregar na maionese» (sobretudo no Brasil: «Um deles, Cláudio Torres, viajou na maionese e construiu o que mais parecia uma ficção científica» (in O Estado de São Paulo, 29-07-2009); «Lula viaja na maionese ao classificar de “tentativa de golpe” contra ele o golpe, este, sim, contra as instituições que foi o Mensalão» (in Revista Veja, 4-12-2010). «Viajar na maionese» é também o nome de um blogue português, cujo subtítulo não deixa de ser bastante sugestivo: «o blog da escorregadela intelectual».
Quanto à sua origem, e, repito, apesar de não encontrar nenhuma explicação oficial, julgo que facilmente percebemos que existem duas características associadas à maionese que justificam esta metáfora: por um lado, o carácter extremamente escorregadio e gorduroso do produto, e, por outro, o facto de resultar de uma mistura de múltiplas substâncias — «azeite, vinagre, gemas de ovos, sal e especiarias, tudo bem batido» (Infopédia). Entendemos, assim, por um lado, a ideia de «patinar», «escorregar», e, por outro, o contexto da «confusão» e do «delírio».
Valerá ainda a pena dizer que, no Brasil, esta foi uma expressão amplamente difundida nos anos 90, devido à sua característica utilização humorística no famoso programa da Rede Globo Escolinha do Professor Raimundo. Numa outra emissão bastante popular da Rádio Globo, Planeta Rei nas ondas da Globo, o seu apresentador, Beto Brito, propõe uma explicação assaz curiosa para a origem da expressão «viajar na maionese»: segundo ele, esta terá evoluído a partir de jargão utilizado por presidiários brasileiros.
Igualmente curioso será verificarmos que, no francês, língua que deu à luz o vocábulo maionese (= mayonnaise), nenhuma destas expressões idiomáticas é utilizada. O dicionário francês Petit Robert regista, no entanto, uma outra, que por cá não foi adoptada: «Faire monter la mayonnaise: exagérer, amplifier la situation, les choses» (tradução livre — «fazer crescer/subir a maionese: exagerar, amplificar a situação, as coisas»).