O advérbio algures, derivado «do cruzamento de algum e alhures [que, por sua vez, provém do latim aliorsu-, “em outro lugar”]» (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado), designa «algum lugar; alguma ou qualquer parte» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, 2001).
Aliás, o valor de «algum lugar», «de alguma parte», associando este advérbio à noção de espaço, é o que se encontra registado em todos os dicionários consultados (Dicionário da Língua Portuguesa, de Cândido de Figueiredo; Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora; Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).
Estranha-se, por isso, o seu uso ligado à ideia de tempo. Talvez isso se deva à tendência de se misturar (e confundir) as categorias de espaço e de tempo, como se de um mesmo núcleo se tratasse. E, uma vez que algures remete para algo indefinido e impreciso (no domínio do espaço) e parece sugerir o recurso à memória (de algo longínquo – no tempo), poder-se-á tentar encontrar aí explicação para tal utilização desse advérbio.
Não é fácil sugerirmos possíveis alternativas para um advérbio (ou qualquer outro vocábulo) que transpareça a ideia de imprecisão a nível do tempo. Outrora parece-nos ser um termo que verbaliza imprecisão/indefinição no tempo, mas circunscreve-se a um passado remoto.