A figura de estilo a que o caro consulente se refere será certamente o quiasmo:
«Gr. Khiasmós, disposto em cruz; o termo deriva da letra grega X (qui). Lat. commutatio, onis, comutação, troca. Espécie de antítese, também conhecido por cruzamento sintático ou contaminação sintática, consiste no cruzamento de grupos sintáticos paralelos, de forma que um vocábulo do primeiro se repete no segundo, em posição inversa (AB X BA):
«"Melhor é merecê-los sem os ter / que possuí-los sem os merecer" (Camões, Lusíadas, c. IX, est. 93); "O dente morde a fruta envenenada / a fruta morde o dente envenenado" (Carlos Drummond de Andrade, Descoberta).»
(Massaud Moisés, Dicionário de Termos Literários, 12.ª edição, São Paulo, Cultrix, 2004, pp. 376/377.)
Porém, reparo que no penúltimo verso transcrito, «A cagar o fumei todo», será ainda detectável um outro recurso estilístico, mais concretamente uma figura de sintaxe chamada anástrofe, que consiste, de forma muito sumária, na «inversão (...) da ordem natural das palavras numa frase, para obter determinado efeito estilístico» (Carlos Ceia, E-Dicionário de Termos Linguísticos). Assim, a ordem mais natural dos termos no referido verso talvez fosse «Fumei-o todo a cagar» e não «A cagar o fumei todo». No entanto, a inversão terá justamente como objectivo a insistência clara no verbo em causa e, consequentemente, na acção a ele associada.