Conforme explica o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, rotacismo pertence a duas rubricas; a fonética e a foniatria:
«1 Rubrica: fonética — mudança fonética que consiste na substituição de um som, esp. o [l] ou uma sibilante sonora, pelo [r] alveolar (p. ex., a mudança do [s] que ocorreu no latim na posição intervocálica: flos, "flor" [nominativo], e flosem > florem [acusativo]) 2 uso abusivo do som [r] 3 Rubrica: foniatria — troca do som [r] com outro som e/ou escrita da letra r indevidamente, no lugar de outra letra [devido a defeito ou conjunto de defeitos da fala, que consiste em substituir sistematicamente uma ou mais consoantes por outras, devido à dificuldade em articulá-las].»
Quando falamos em rotacismo como mudança fonética, falamos de mudanças que ocorreram no latim clássico (tal como exemplificado acima), ou na passagem do latim para o português. Neste segundo caso, as mudanças verificam-se nos grupos consonantais em posição inicial [pl], [fl] e [cl], [gl] e [bl] cujo [l] é, em muitos casos, substituído por [r] (ex.: placere > prazer; fluxu > frouxo; blancu > branco; glute > grude, etc.).
Existe, no entanto, outro caso de rotacismo no campo fonético, considerado, neste caso, um vício da linguagem conhecido por metaplasmo — um desvio da composição fonética da palavra (ex.: alface > "arface"; Cláudia > "Cráudia"; flácido > "frácido"; blusa > "brusa", etc).
Outro exemplo de metaplasmo é a metátese, isto é, a troca de sílabas de uma palavra, que também originou mudanças linguísticas na passagem do latim para o português (ex.: semper > sempre), e que muitas vezes se verificam na oralidade (ex.: perguntar > "preguntar").
Estes desvios ou desarticulações são próprios da linguagem corrente, ou seja, são tendências do registo oral, mas devem ser evitados, principalmente na escrita, pois nos dias de hoje existem normas e convenções que devemos seguir.
Respondendo agora à pergunta sobre qual é a relação deste fenómeno com o preconceito e a discriminação; «O rotacismo [é um] fenómeno que se caracteriza em variedades não-padrão (sobretudo rurais) do Brasil e que, por isso, recebem uma forte carga de estigmatização, isto é, sofrem um grande preconceito por parte dos falantes das variedades urbanas (Marcus Bagno, Preconceito lingüístico: o que é, como se faz (Ed. Loyola, 1999; 15.ª ed., p. 91).
Esperamos ter ajudado.