O Dicionário Terminológico (DT) considera a existência de dois tipos de mudança linguística na alteração do sistema fonológico e do repertório de unidades fónicas de uma língua:
regular
«Mudança que atinge os sons de uma língua, i. e., mudança fonética ou fonológica, e que parece obedecer a um princípio de regularidade: o mesmo som, numa dada língua, por vezes em contexto fonético determinado, evolui no mesmo sentido em todas as palavras dessa língua durante um certo período.»
irregular
«Mudança que não obedece a um princípio de regularidade. Verifica-se ao nível fonético, sobretudo com dissimilações e metáteses, e ao nível lexical, com as etimologias populares. A etimologia popular é uma forma de mudança analógica.»
Também no DT se inventariam processos fonológicos relevantes para o estudo do português e passíveis de ocorrer num dado estádio de evolução linguística (sincronicamente, na variação de uma dada língua), podendo generalizar-se a uma perspectiva histórica (diacrónica), como adiante se exemplifica (PE = português europeu; PB = português brasileiro):
— inserção de segmentos
posição inicial (prótese): mandar > "amandar" (dialectos e sociolectos do PE)
posição medial (epêntese): FEBRUARIU- > fevereiro; cea (português antigo e médio) > ceia (PE e PB)
posição final (paragoge): amor > "amori" (dialectos meridionais do PE)
— supressão de segmentos
posição inicial (aférese): estar > "`star", "`tar" (registo informal em PE e PB)
posição medial (síncope): coroa > "c`roa" (dialectos e sociolectos do PE)
posição final (apócope): cantar > "cantá" (dialectos brasileiros)
— alteração de segmentos
assimilação (um segmento fonético adquire um traço ou traços fonéticos de um segmento vizinho, identificando-se com ele ou dele se aproximando):
DATU- > dado (o -T- do latim tornou-se vozeado porque estava entre vogais, cuja característica é o vozeamento)
dissimilação («um segmento fonético perde um ou mais traços fonéticos que tinha em comum com um segmento vizinho, diferenciando-se dele»):
Filipe > "felipe"
nasalização (é um tipo de assimilação: «Processo fonológico em que uma vogal oral adquire nasalidade, por influência de outro som nasal»):
LANA- > lã (o -N- latino intervocálico cai, nasalizando a vogal precedente)
ditongação («Processo fonológico em que uma vogal se desdobra em dois segmentos, i. e., produz-se uma diferenciação tímbrica no interior do segmento vocálico, dando origem ao aparecimento de uma semivogal em posição pré ou pós-vocálica»):
cereja > "cerâija" (PE)
redução vocálica («Processo fonológico que consiste no enfraquecimento de uma vogal em posição átona»):
sono > soninho (pronunciado "suninho" em PE)
crase («Contracção ou fusão de duas vogais em uma só»):
preegar (português antigo) > pregar
— metátese («Transposição de segmentos ou sílabas no interior de uma palavra»):
torcer > "trocer"; garfo > "fargo" (linguagem infantil); tigre > "trigue" (como acontece no jogo verbal «um tigre, dois tigres, três tigres»).