Tem muita razão na sua observação. A próclise é a regra no Brasil, enquanto, deste lado do Atlântico, “comanda” a ênclise. E tem razão igualmente quanto ao uso menos correcto, digamos assim, da ênclise em algumas situações em que a norma preconiza a próclise, nomeadamente em orações subordinadas, introduzidas por porque ou por outra conjunção…
Devo dizer, no entanto, que a próclise com alguns pronomes indefinidos não é, entre nós, obrigatória. Regista alguma flexibilidade, adquirindo a mensagem com recurso à próclise sentidos ligeiramente diversos, face à ênclise. Vejam-se os exemplos (a interrogação deve ser encarada como fruto de uma análise com base no português europeu, e não como uma incorrecção, se encaramos a língua portuguesa na sua globalidade):
(1) «Ele anda constantemente de um lado para o outro. Uns viram-no em Lisboa, outros viram-no no Porto.»
(2) (?) «Ele anda constantemente de um lado para o outro. Uns o viram em Lisboa, outros o viram no Porto.»
(3) «Ele tem recebido inúmeras visitas. Muitos visitam-no durante a semana; alguns visitam-no ao domingo.»
(4) (?) «Ele tem recebido inúmeras visitas. Muitos o visitam durante a semana; alguns o visitam ao domingo.»
(5) «Ele tem recebido inúmeras visitas. Muitos visitam-no durante a semana, mas poucos o visitam ao domingo.»
(6) «Ele tem recebido inúmeras visitas. Muitos o visitam durante a semana, mas poucos o fazem ao domingo.»
No excerto que apresenta, ambas as soluções me parecem adequadas, havendo, no caso de uso da próclise, uma certa ideia de realce, como acontece, creio, entre os exemplos (5) e (6) acima:
«Se uns empregam o nome da moeda única com [ó], muitos o encaram como uma palavra grave e articulam a letra como [u], ou seja, o som que é esperar na posição átona final de uma palavra em português, incluindo a variante do Brasil (cf. porto, canto, debaixo).»
O caso é diferente quanto ao que acontece após a conjunção porque. Aí, por norma, deveria ocorrer sempre a próclise.