«Não há mitigação possível para aquilo que não é mitigável», lembra o jornalista Wilton Fonseca, a propósito da alegada «suavização» das medidas de austeridade em Portugal, anunciadas pelo ministro das Finanças, Vitor Gaspar. In jornal “i” de 15/10/2012.
O ministro Gaspar disse M-I-T-I-G-A-R. Já se sabe que à rapidez das suas palavras não corresponde – directa ou indirectamente – o significado das mesmas. Foi o que se viu. Mais uma vez.
As classes médias encolhem-se, apavoradas, com as medidas que o Orçamento do Estado vai exigindo e anunciando aos poucos; as classes mais desfavorecidas já não têm para onde nem como encolher, mas deverão encolher. Se esperanças tiveram no prometido e garantido «mitigar» do ministro Gaspar, já devem ter aprendido a lição. Talvez passem a ter mais cuidado com os passos que sejam obrigados a dar no futuro.
Mitigar em latim significa «amansar», isto é, tornar ou tornar-se menos intenso, menos severo, menos rigoroso, menos difícil de suportar. Por extensão, significa abrandar,atenuar, aliviar, suavizar. O Dicionário da Academia [das Ciências de Lisboa] dá alguns exemplos: mitigar a sede, mitigar a fome, mitigar a dor, mitigar o ódio. Qualquer semelhança com o que foi posto a descoberto no anúncio das medidas previstas no Orçamento do Estado será mera coincidência. Não há mitigação possível para aquilo que não é mitigável. Como diria Jorge Amado, o ministro Gaspar e o seu governo «mitigaram não».
in jornal "i" de 15 de outubro de 2012, na coluna do autor "Ponto do i", sob o título original "Mitigar". Manteve-se a norma ortográfica de 1945, seguida pelo jornal.