Tenho visto alguns comentários sobre o acordo ortográfico, desclassificando-o por haver dupla grafia em algumas palavras. Com isto querem dizer que não é um acordo, mas um desacordo institucionalizado. Nada mais errado.
É de longa tradição palavras com dupla grafia, pois elas têm de fato também dupla pronúncia, mesmo quando ditas pela mesma pessoa. Eis o exemplo de algumas:
Qual é a pessoa que não pronunciou ou escreveu estas palavras das duas maneiras?
Acreditem que são muitas as palavras de dupla grafia em Portugal. Claro que os estudiosos do assunto tentam evitar, mas por vezes não é possível: para isso estão razões etimológicas, históricas, de generalidade ou arbitrariedade com que até a mesma pessoa usa na forma falada.
Nada mais natural que mais algumas venham a acontecer ao fazer um acordo ortográfico.
Por outro lado, o lado português mostra bastante ignorância em relação ao que se passa no Brasil.
No Brasil já está em prática o princípio da dupla grafia para algumas palavras previstas no acordo. Agora é só aumentar umas mais. Por exemplo no Brasil são admissíveis as seguintes grafias:
Ou seja, eles não vão estranhar por se admitir mais esta, por exemplo: fato — facto.
Desta forma, não pensem os portugueses que para alguns brasileiros não vai ser uma libertação poderem escrever "género" em vez de "gênero", pois é de fato assim que eles pronunciam. Alguma vez um curitibano puro diz "gênero"? E como eles muitos outros...
Este acordo é muito mais maravilhoso do que muita gente pensa!
Os portugueses ainda não descobriram que este acordo ortográfico é também uma reconciliação interna brasileira... Que miopismo, meu Deus!
A propósito de zimbabuense/zimbabuano, dizem-me que há um léxico adoptado pela União Europeia que estabelece a nomenclatura aprovada pela UE sobre nomes de países, nacionalidades, moedas para todas as línguas da UE incluindo Portugal — é possível aceder a este site? Como?
Grata pela ajuda.
Para quem gosta de seguir com atenção toda a movimentação à volta do desporto, nomeadamente do futebol, é arrasador ter de escutar, aqui e ali, verdadeiras pedradas que surgem a cada passo, umas vezes por «excesso de velocidade», outras por, creio, absoluta ignorância. Claro que ninguém sabe tudo. Mas há pormenores tão... dramátricos que me obrigam a reagir.
Por exemplo: ouvir um senhor treinador com um currículo impressionante, com uma facilidade de abordar os mais diversos temas em redor da modalidade, licenciado, campeão no país e no estrangeiro – e que, por sinal. muito respeito e admiro pelo seu trabalho – dizer da polivalência de determinado jogador: «Eu fize-o alinhar...». Bolas, ainda se tivesse sido um determinado presidente a deixar cair essa bronca!...
Outra coisa que me arrepia é o uso do termo intempestivo. Será que que é sempre usado com o seu significado real? Não me parece. Mas vou continuar atento, não vá, atempadamente, entrar pelo tempo uma tempestade.
Sou de Braga e devo dizer que a expressão «Ver Braga por um canudo» deriva da existência de um telescópio no monte do Bom Jesus há dezenas de anos através do qual as pessoas podem ver a cidade à distância. O "slogan" era «Veja Braga por um canudo». Quanto à expressão «És de Braga» dita a alguém que deixa a porta aberta deve-se ao facto de O Arco da Porta Nova, em Braga, nunca ter tido porta desde o momento da sua construção, substituindo uma entrada antiga e com porta, apesar de ser intenção dos seus construtores de lá colocarem porta. Assim, como o país não mais esteve em guerra, nunca houve necessidade de proteger a cidade com portões e a cidade ficou sempre com a porta aberta.
A propósito da resposta de 16/07/2007, sobre rugby, faço o seguinte comentário:
O disparate de a maioria pronunciar "reiguebi", quando a grafia portuguesa é râguebi, de acordo com o inglês rugby, vem certamente da ignorância da língua inglesa: Como o "a" em inglês se lê muitas vezes "ei" (mas não neste caso), aí está, para armar ao pingarelho, a carneirada "bem falante" e asneirenta põe-se a dizer "reiguebi".
Há outro caso, que vai certamente fazer carreira, pois tem os mesmos sintomas. Trata-se do tackle, palavra inglesa, que aplicada ao futebol quer dizer um tipo de falta e que os nossos comentadores desportivos têm traduzido por carrinho.
Pois bem, um destes comentadores, ex-árbitro, lembrou-se de pronunciar "teicle", quando os ingleses dizem "técle". Apesar de toda a gente hoje falar inglês, não houve ninguém que lhe chamasse a atenção. Já escrevi para essa emissora, sem resultado.
Enfim, mais um disparate que vai pegar...
Relativamente à resposta dada sobre a palavra trivela, penso poder dar um contributo que sem rigor científico é o seguinte:
Lembro-me de, quando era miúdo, ser o termo trivela usado na minha terra, e penso que, pelo menos em todo o Grande Porto, para designar de forma jocosa a fivela do sapato, usado num tipo de calçado mais fino que todos hoje conhecemos, mas que há 30 ou 40 anos atrás era sinal de algum bem-estar e desencadeava nos mais "tesos" ímpetos de inveja. Penso que podemos chamar-lhe uma corruptela da palavra fivela, todavia era utilizada, para gozo com quem a usava, pretendia dar ênfase à vaidade de quem ausava nos sapatos, tipo "fivela catita". Poderia ser usada em expressões como: «Tens uma trivela qu´até cega as vistas!»
Concluindo, essas fivelas normalmente estariam colocadas no sapato sobre o lado de fora do peito do pé, local a que corresponde o ponto de bater a bola com o efeito conhecido por trivela e a que tão bem, mais recentemente, o Quaresma nos tem habituado.
Enganar-me-ei?
O meu comentário vai para o título de primeira página do Destak [jornal português gratuito] de 26 de Julho de 2007, que, mesmo não fazendo minimamente parte da minha selecção de imprensa diária, ainda assim, e dada a profusão de leitores deste tipo de imprensa nos nossos transportes públicos, é inevitável olhar, mesmo se distraidamente, para as chamadas gordas... Ora, e o título dizia assim: «Acusações no Apito Dourado quadriplicam com Morgado.» É que, tratando-se de primeira página, a hipótese de lapso ou equívoco está decididamente afastada, restando somente a ignorância. O verbo escreve-se quadruplicar, correspondendo ao substantivo quádruplo do latim quadruplu.
Obrigado por este espaço electrónico.
Caro Ciberdúvidas,
Venho, mais uma vez, em acção de protesto, pela forma calamitosa como os canais temáticos da nossa televisão, e em particular o canal História, tratam o nosso idioma e, até, como lhes é estranha a cultura geral mais rudimentar.
Comecemos por aqui.
O episódio em causa refere-se às conquistas tecnológicas da China no tempo dos imperadores.
«... os esqueletos do bicho-da-seda (eram usados para adubar a terra).»
Tal e qual!
Portugal é com certeza o único país do mundo inteiro em que se ensina que um verme tem… esqueleto!
Deixai-me fazer um avanço ao que deve ter acontecido.
O tradutor, com human remains na tonta cabeça, e vendo no guião remains, tratou logo de traduzir por «esqueletos». Aliás, diga-se de passagem, o termo indicado, human remains, refere-se à totalidade do cadáver e não apenas da parte do corpo humano constituído pelo tecido ósseo.
Agora o pontapé na gramática:
«... peneireiro, como o instrumento constituído por uma caixa circular de madeira, sendo o fundo de rede metálica, e que serve para separar o grão dos cereais da palha.»
Quer dizer, o erro é duplo, pois a palavra adequada seria crivo, peneireiro soando a peneiro, peneira. Quanto a peneireiro, é, toda a gente sabe, uma ave de rapina ainda não extinta.
E assim vai a divulgação da cultura.
Quando das campanhas de Alexandre, o Grande, sobre a cidade de Tiro (Fenícia), o Canal de História [Portugal] não está para meias-medidas: atribui às muralhas da cidade a altura de 150 metros.
O tradutor passou de 150 pés (confirmado na Internet) para os inconcebíveis 150 metros. Mesmo que o pé valesse diferentemente do inglês quando Alexandre (séc. III a. C.) a assediou, andaria por 40 a 50 metros, o que, sendo muito notável (compare-se com o Castelo de São Jorge), não se configura impossível.
Pode dizer-se que, mais uma vez, o Canal de História meteu os pés… pelos metros.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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