DÚVIDAS

Acordo reconcilia brasileiros

Tenho visto alguns comentários sobre o acordo ortográfico, desclassificando-o por haver dupla grafia em algumas palavras. Com isto querem dizer que não é um acordo, mas um desacordo institucionalizado. Nada mais errado.
É de longa tradição palavras com dupla grafia, pois elas têm de fato também dupla pronúncia, mesmo quando ditas pela mesma pessoa. Eis o exemplo de algumas:

louça — loiça
ouro — oiro
covarde — cobarde
bilingue — bilíngue

 

Qual é a pessoa que não pronunciou ou escreveu estas palavras das duas maneiras?

Acreditem que são muitas as palavras de dupla grafia em Portugal. Claro que os estudiosos do assunto tentam evitar, mas por vezes não é possível: para isso estão razões etimológicas, históricas, de generalidade ou arbitrariedade com que até a mesma pessoa usa na forma falada.

Nada mais natural que mais algumas venham a acontecer ao fazer um acordo ortográfico.

Por outro lado, o lado português mostra bastante ignorância em relação ao que se passa no Brasil.

No Brasil já está em prática o princípio da dupla grafia para algumas palavras previstas no acordo. Agora é só aumentar umas mais. Por exemplo no Brasil são admissíveis as seguintes grafias:

contatar — contactar
seção — secção
etc.

 

Ou seja, eles não vão estranhar por se admitir mais esta, por exemplo: fato — facto.

Desta forma, não pensem os portugueses que para alguns brasileiros não vai ser uma libertação poderem escrever "género" em vez de "gênero", pois é de fato assim que eles pronunciam. Alguma vez um curitibano puro diz "gênero"? E como eles muitos outros...

Este acordo é muito mais maravilhoso do que muita gente pensa!

Os portugueses ainda não descobriram que este acordo ortográfico é também uma reconciliação interna brasileira... Que miopismo, meu Deus!

Resposta

Agradecemos o seu comentário à controvérsia em torno do novo Acordo Ortográfico. Só queríamos acrescentar o seguinte:

1. Não nos parece que se não reconheça em Portugal a existência de palavras de dupla pronúncia ou de dupla grafia. Pelo menos, as formas loiça, oiro, covarde e bilíngue andam registadas nos dicionários portugueses (ver Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, e Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa).

2. Confirmamos que a ortografia em vigor no Brasil, a do Formulário Ortográfico de 1943, de facto legitima as variantes gráficas seção/secção e contato/contacto. Apesar disso, ao mesmo tempo que acolhe o primeiro par de variantes, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2004, 1.ª reimpressão) não regista as formas contacto e contactar.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa