De facto, numa primeira leitura, parece tratar-se de uma personificação, sobretudo devido à última parte — «ter o braço longo» —, referindo-se ao castigo. Mas, na frase que nos apresenta, o que sobressai, na primeira parte, é o valor do adjectivo «pesado» para caracterizar «castigo», o que nos remete para a hipálage, pois estamos perante um caso de adjectivação sugestiva que valoriza a impressão e a percepção imediata, em que «o efeito criativo é conseguido pela originalidade da construção, sem ambicionar outra representação mental da realidade a não ser aquela relacionada com o fenómeno psicológico ou com a ilusão de óptica» (E-Dicionário de Termos Literários).
A hipálage joga com a transposição de qualidades sugeridas pelo adjectivo, tirando partido da sensação, do efeito que provoca no leitor. Distingue-se da «personificação, da sinestesia ou de outra figura de pensamento porque a primeira é concebida num segmento sintáctico que torna explícita a intenção estilística da transposição, não atribuindo novos significados às palavras» (idem). Assim, neste caso, verificamos que nos encontramos na presença de «processo de valorização estilística que consiste na atribuição a um objecto de uma característica que, na realidade, pertence a outro com o qual está relacionado. Transposto na frase, o adjectivo aparece muito frequentemente nesta construção, ligando ao objecto uma característica moral pertencente ao sujeito [ex.: «o silêncio desaprovador dos meus colegas» (A Queda dum Anjo, de Camilo Castelo Branco)].