DÚVIDAS

Sobre o uso do conjuntivo

Os senhores aceitam o conjuntivo nestas orações?
1. «Com pouca freqüência lia coisas que lhe conviessem.»
2. «Os escassíssimos carros de luxo que no futuro esta multinacional fabrique no Brasil serão destinados ao Corpo Diplomático.»
3. «Os escassíssimos carros de luxo que no futuro esta multinacional fabricar no Brasil serão destinados ao Corpo Diplomático.»
4. «É raro o homem que enviúva que não se torne a casar.»
Obrigado.

Resposta

Neste caso, a motivação para o emprego do verbo no conjuntivo nas frases apresentadas é a presença da oração subordinada relativa e não a presença de um matiz de frequência. Não é o contexto semântico que restringe o uso do conjuntivo, mas o contexto sintáctico.
Se atentarmos nas frases e as decompusermos sintacticamente/sintaticamente, temos:
1. «Com pouca frequência (ele) lia coisas» – oração subordinante.
«Convinham-lhe coisas» – oração subordinada.
«Com pouca frequência lia coisas que lhe conviessem».
2. e 3. «Os escassíssimos carros de luxo serão destinados ao Corpo Diplomático» – oração subordinante.
«No futuro esta multinacional fabricará (escassíssimos) carros de luxo no Brasil» – oração subordinada.
«Os escassíssimos carros de luxo que no futuro esta multinacional fabrique/fabricar no Brasil serão destinados ao Corpo Diplomático.»
4. «É raro o homem que enviúva» – oração subordinante (com oração subordinada relativa encaixada).
«O homem [que enviúva] não se torna a casar» – oração subordinada.
«É raro o homem que enviúva que não se torne a casar.»
Diz-se também que o uso do conjuntivo nas subordinadas relativas é opcional e, por isso, pode alternar sempre com o modo indicativo:
1. «Com pouca frequência lia coisas que lhe convinham (ind.)/conviessem (conj.).»
2. e 3. «Os escassíssimos carros de luxo que no futuro esta multinacional fabrica (ind.)/fabrique (conj.) no Brasil serão destinados ao Corpo Diplomático.»
4. «É raro o homem que enviúva que não se torna (ind.)/torne (conj.) a casar.»
Outro problema levantado pela questão que coloca é o do uso dos diferentes tempos a aplicar no modo conjuntivo, o que se relaciona com a situação no tempo do facto/fato que enunciamos, relativamente ao momento em que se fala (sobre esta questão cf. Presente do ind. / presente do conj. / futuro do conj. + O conjuntivo). Assim temos que:
– em 1. o verbo está no pretérito imperfeito do conjuntivo (conviessem);
– em 2. e em 4. o verbo está no presente do conjuntivo (fabrique, [não se] torne);
– em 3. o verbo está no futuro do conjuntivo (fabricar).

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