O símbolo do litro "l" (letra L minúscula) foi inicialmente adoptado pelo Comité Internacional dos Pesos e Medidas, em 1879, e confirmado em 1948.
A demasiada semelhança entre o "l" (minúsculo) com o algarismo "1", sobretudo em determinadas fontes de caracteres, tornou as leituras de volume confusas, susceptíveis de ambiguidade.
– Escrevendo, por exemplo "11 l", fica-se sem saber se estamos a indicar o número 111 (cento e onze) ou a referir onze litros.
– A indicação "2 l" significará dois litros ou representará o número vinte e um?
– Do mesmo modo "1 l" pode parecer o número onze ou a indicação "um litro".
Para evitar esses inconvenientes, a 16.ª Conferência Geral dos Pesos e Medidas, em 1979, decidiu admitir, para o litro, o símbolo alternativo "L", permitindo a facultatividade de usar "l" ou "L". Trata-se de uma adopção excepcional.
Por uma questão de bom senso, ou se usa um símbolo, ou se usa outro, sendo de mau gosto misturar na mesma prosa ambos os símbolos.
Em regra, só as unidades que derivam de nomes de cientistas (por exemplo, N, símbolo do newton; W, símbolo do watt; Pa, símbolo do pascal; Wb, símbolo do weber) têm símbolos com letra maiúscula, ou, no caso de terem duas letras (situação que decorre de já haver outro símbolo com a mesma letra), a primeira será maiúscula e a segunda minúscula. Este critério favoreceria a opção pelo "l" (dado que a palavra litro não deriva do nome de nenhum cientista).
No entanto, a eliminação de ambiguidades também deve ser tida em conta, o que leva à possibilidade de usar "l" ou "L". Note-se que esta possibilidade de confusão só existe quando à esquerda do "l" existir um algarismo. Se antes deste símbolo houver uma letra, não há ambiguidade. É o que acontece quando se escrevem os símbolos dos múltiplos e submúltiplos SI do litro: por exemplo: 10 μl (dez microlitros); 3 ml (três mililitros); 14 kl (catorze quilolitros).
Em suma, não é erro escrever 24 ml, mas também se pode, sem infringir normas, escrever 24 mL[1]. Em "15 kl" não há ambiguidade na leitura, mas em "5 l" já aparecem dúvidas de interpretação. Se as duas situações aparecerem no mesmo contexto, será preferível, pelo bom senso, optar só por um dos símbolos; e o único símbolo que nunca cria confusão é "L". Escreva-se então, por exemplo, 5 L e 16 mL. Mas não há erro normativo em escrever 5 L e mais adiante 16 ml.
Para saber mais:
Guilherme de Almeida, Sistema Internacional de Unidades, Lisboa, Plátano Editora, 2002
Le Système international d'unités, 8.ª edição, Organisation intergouvernementale de la Convention du Mètre, 2006
Em francês: https://www.bipm.org/utils/common/pdf/si_brochure_8_fr.pdf
Em inglês: https://www.bipm.org/utils/common/pdf/si_brochure_8_en.pdf
Decreto-Lei n.º 238/94, de 19 de Setembro – Sistema de Unidades de Medida Legais para todo o território português
Decreto-Lei n.º 128/2010, de 3 de Dezembro
[N. E. – O autor desta resposta não segue as regras do Acordo Ortográfico de 1990.]
[1 N. E. (26/02/2019) – Ainda a propósito das formas ml e mL, um consulente do Rio de Janeiro, Humberto Aparecido Santos, mantém dúvidas, porque, conforme explicou ao Ciberdúvidas, foi informado pelo sítio eletrónico Língua Brasil, do Instituto Euclides da Cunha, de que deveria empregar ml, e não ml, conforme o preceituado na coluna Não Tropece na Língua n. 59 - SÍMBOLOS E UNIDADES DE MEDIDA; acrescentou a mesma fonte que «[o] Inmetro oficializou apenas a possibilidade de escrever o L [uma letra só] em maiúscula para substituir o l de litro, [...] e não os símbolos constituídos de duas letras».
O autor da presente resposta, Guilherme de Almeida, acedeu a elaborar o seguinte esclarecimento adicional:
«A ambiguidade (a letra l poder ser confundida com o algarismo 1) não se verifica quando à esquerda do símbolo do litro houver letras. É o caso de «6 ml», mas não é o caso que ocorre, por exemplo, em 6l. A documentação do Bureau International des Poids et Mesures (BIPM) não obriga ninguém a utilizar l ou L. Estão abertas as duas opções. E a possibilidade de um símbolo alternativo é apenas para evitar a tal ambiguidade.
A transposição para cada país, em conformidade com o que está normalizado, é determinada pelo organismo que (em cada país) se ocupa da normalização e tem assento nas reuniões periódicas do BIPM. Em Portugal, esse organismo é o IPQ (Instituto Português da Qualidade); no Brasil é o INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia).
Na publicação do INMETRO, intitulada «Sistema Internacional de Unidades SI» (2012), na página 37, apresenta-se, para símbolo do litro, «L, l». Há ali mesmo uma nota (nota f) que diz (e transcrevo ipsis verbis):
« O litro e o seu símbolo l (ele minúsculo) foram adotados pelo CIPM em 1879 (PV, 1879, 41). O símbolo L (ele maiúsculo) foi aditado pela 16.ª CGPM (1979, Resolução 6; CR, 101 e Metrologia, 1980, 16, (56-57) como alternativa para evitar o risco de confusão entre alerta l e o algarismo um (1)».
Como se pode ver, não aparece nada oficializando «apenas a possibilidade de escrever o L [uma letra só] em maiúscula para substituir o l de litro, (...), e não os símbolos constituídos de duas letras». No entanto, como já referido, a ambiguidade não existe quando há uma letra antes do símbolo do litro. E também nada se diz, sobre tal «oficialização», nas outras partes do mesmo documento onde ocorre a unidade «litro».
O objectivo da simbologia é a clareza e a eliminação de ambiguidades, Um caso semelhante acontece com o símbolo da unidade de resistência eléctrica, o ohm. Como a primeira letra de «ohm» (que como símbolo seia maiúscula) é O, a letra O podia ser confundida com o algarismo zero. Quem escrevesse «15 O» para indicar «15 ohms» arriscava-se a que essa escrita fosse interpretada como 150 (cento e cinquenta). Por isso mesmo, foi decidido que o símbolo do ohm seria em todos os casos a letra grega ómega (Ω) maiúscula. Assim, uma resistência de 15 ohms representa-se sempre como 15 Ω e nunca como 15 O. Do mesmo modo se escreve 100 kΩ, e nunca 100 kO.»]