A pergunta levantada pelo consulente parte do seguinte pressuposto: «a palavra importada massivo é incorreta, porque, com ela, se pretende substituir uma palavra portuguesa com tradição que é maciço». Assim é a maneira de ver dos normativistas mais estritos; no entanto, no âmbito de domínios especializados, recorre-se frequentemente à importação de palavras como forma de criar terminologias que não deem azo a ambiguidades. O uso de massivo vai, pois, ao encontro desta necessidade, tendo sobre maciço a vantagem de se referir univocamente ao «substantivo que representa um conjunto que não é passível de ser dividido em partes singulares que se possam enumerar, contar» (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa).1 Não obstante, diga-se que este uso especializado não tem necessariamente de legitimar as ocorrências de massivo noutros registos, onde se deverá continuar a dar preferência a maciço.
Sobre bué, o facto de se encontrar dicionarizado não equivale a admiti-lo em todos os contextos. Se assim fosse, a palavra poderia ser usada em registo formal, podendo, por exemplo, o presidente da República declarar que a presente crise é «bué difícil», em lugar de «muito difícil» (só o faria excecionalmente, se quisesse adotar um tom jocoso). Assinale-se, aliás, que bué vem classificado como expressão do registo informal ou coloquial, e não como termo aplicável a qualquer registo, conforme se assinala em nota de uso no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa e no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora (versão em linha).
Quanto a "alcoolémia", é um caso um tanto diferente dos anteriores. Trata-se de uma forma cuja acentuação muitos gramáticos consideram incorreta, recomendando em seu lugar alcoolemia. A respeito da acentuação do radical -emia, considera-se, como se refere no Dicionário Houaiss, que «[...] a pronúncia paroxítona (-emía) é tendencialmente universal na língua de cultura, embora haja áreas de vacilação regional e de hesitações de um inteiro grupo social». A dicionarização de "alcoolémia" (cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e dicionário da Porto Editora) decorre, portanto, de tais oscilações, que não são arbitrárias (ler Textos Relacionados).
Em suma, a existência de massivo e a dicionarização de bué não me parecem constituir atos de capitulação ou de infração das normas. O que é preciso é que cada falante saiba usar estas palavras com adequação, nos contextos certos.
1 Atenção que, na resposta 16 530, ao contrário do que parece sugerir a formulação do consulente, eu não afirmo que massivo é um substantivo; o que digo efetivamente é que massivo é um termo aplicável a um certo tipo de substantivo.