A resposta que deu — «Sei, porque sei» —, querendo indicar que o que sabia o aprendera sem esforço, quase como se fosse uma aprendizagem feita naturalmente, é praticamente algo como o saber intuitivo (dos falantes) de que os linguistas falam quando se referem ao domínio da língua de uma criança que usa adequadamente as formas verbais, que faz as concordâncias, que constrói corretamente as frases do seu discurso sem ter aprendido (ainda) as regras da gramática.
Poder-se-á falar de um caso de redundância, mas — e embora repita a forma verbal sei —, o segundo sei, da oração causal, tem um sentido diferente do primeiro, o de «ter interiorizado», «ter apreendido», é a explicação para a certeza evidenciada com o primeiro sei. A estranheza provocada por esta resposta deve-se, decerto, ao facto de as pessoas a quem a dirigiu não terem compreendido bem o que queria dizer. Tudo teria sido mais óbvio se tivesse acrescentado os advérbios naturalmente ou intuitivamente.
Repare-se que a célebre frase de Sócrates «Sei que nada sei», a do paradoxo socrático, também causa estranheza quando ouvida pela primeira vez. E o que é, aparentemente, ilógico deixa de o ser logo que analisemos bem a frase.
Os jogos de palavras têm o poder de confundir quem ouve. Por isso, para que não haja equívocos (ou se não queremos que os haja), importa sermos mais explícitos e precisos, de modo a que não se possa correr o risco de sermos julgados de forma errada.