Antes de responder à dúvida, é preciso diferenciar aqui os conceitos de sexo – ligado ao aspecto biológico, fisiológico, anatômico dos seres sexuados – e de gênero gramatical – ligado ao uso histórico-linguístico de uma palavra.
Entenda: as palavras da língua portuguesa sempre têm um gênero gramatical: ou masculino («meu carro», «o universo»), ou feminino («a estrela», «esta morada»). Note que o determinante (artigo, pronome) marca, gramaticalmente, o gênero das palavras carro, universo, estrela, morada, etc.
Em muitas palavras, porém, esses vocábulos que acompanham os substantivos não só marcam a sua categoria gramatical de gênero, como também acabam por apontar para o sexo daquele ser representado no mundo por palavras como loba (ser sexuado, a fêmea do lobo) ou menino (ser sexuado, cuja contraparte é menina). Sendo assim, menino é um substantivo masculino que se refere a um ser do sexo masculino, e loba é um substantivo feminino que se refere a um ser do sexo feminino – diferentemente de carro ou morada, que só têm gênero gramatical, e não sexo.
Há substantivos, porém, que têm apenas um gênero gramatical, mas que podem ser usados para referir-se a seres de sexos diferentes, como criança (gênero gramatical feminino, mas pode referir-se a menino ou menina) e cônjuge (gênero gramatical masculino, mas pode referir-se a homem ou mulher).
Agora, quando se deseja usar um substantivo para se reportar a grupos de seres de sexos diferentes, historicamente se usa o gênero gramatical masculino como marca neutralizadora, a fim de englobar todos os seres sexuados: «Os brasileiros são pessoas divertidas.» Note que o substantivo brasileiros está no gênero gramatical masculino, mas não se refere só a seres do sexo masculino, mas também aos do sexo feminino.
Dito isso, vamos à questão em si trazida pelo consulente.
A palavra pessoa é feminina: a pessoa, essa pessoa, aquela pessoa, linda pessoa, duas pessoas etc. – ou seja, a palavra pessoa é um substantivo do gênero gramatical feminino.
No entanto, esta palavra – assim como criança ou cônjuge, p.ex. – pode se referir aos dois sexos existentes no mundo real: aos seres do sexo feminino («Maria é uma pessoa linda») e aos seres do sexo masculino («Mário é uma pessoa linda»).
No caso trazido pelo consulente, o gênero gramatical feminino da palavra pessoa (sujeito da frase) não altera a concordância nominal estabelecida dentro do sintagma «ótimos empresários» (predicativo do sujeito), pois empresários – qual masculino genérico, neutralizador – aponta para todos os seres sexuados (homens e mulheres) pertencentes a esse grupo profissional.
Assim, a forma correta é esta:
– Essas pessoas são ótimos empresários.
Sempre às ordens!