Tendo em conta que «conjugar um verbo é dizê-lo em todos os modos, tempos, pessoas, números e vozes» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 385), depreende-se que uma conjugação corresponde ao «conjunto sistemático de todas as flexões, de modo, de tempo, de pessoa, de número, de voz de um verbo» (João Antunes Lopes, Dicionário de Verbos, Porto, Lello e Irmão, 1992, p. 18), o que não nos deixa quaisquer dúvidas sobre a possibilidade da existência de alguma conjugação que se restrinja a alguns modos e a certos tempos.
No entanto, não há unanimidade entre os gramáticos e dicionaristas de verbos no que respeita à questão colocada pela consulente, pois há diversidade no modo como a classificam:
a) conjugação reflexa (ex.: lavo-me) – enquadrada nas conjugações paradigmáticas, distinguindo-se da conjugação activa [formas simples (ex.: lavo) e compostas (tenho ou hei lavado)], da conjugação passiva (ex.: sou lavado) e da conjugação pronominal (ex.: lavo-o) (Dicionário dos Verbos Portugueses, da Porto Editora; Dicionário dos Verbos Portugueses Conjugados, de Rodrigo de Sá Nogueira, Lisboa, Clássica Editora, 1999;
b) conjugação pronominal reflexa – que, inserida na conjugação pronominal (sempre que «um verbo pode ser conjugado com um complemento»), se denomina «reflexa se o pronome é da mesma pessoa que o sujeito» (João Antunes Lopes, Dicionário de verbos, ob. cit, p. 35);
c) voz reflexiva – uma das três formas [voz activa (ex.: O João feriu o Pedro), passiva (ex.: O Pedro foi ferido pelo João) e reflexiva (ex.: O João feriu-se)] pelas quais o facto expresso pelo verbo pode ser representado, que se caracteriza por representar um facto «praticado e sofrido pelo sujeito» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, ob. cit., p. 382);
De qualquer forma, independentemente do modo como seja classificada, quer como voz reflexiva ou como conjugação (pronominal) reflexa, «o verbo vem sempre acompanhado de um pronome oblíquo que lhe serve de objecto directo ou, mais raramente, de objecto indirecto e representa a mesma pessoa que o sujeito» (idem, p. 405), o que leva a que possa ser conjugada de três maneiras:
– com o pronome enclítico (depois do verbo) – a posição mais vulgar: Ex.: Lavo-me (pres. ind.), lavava-me (pret. imperf. dnd.), lavei-me (pret. perf. ind.), tenho-me lavado (pret. perf. comp.), lavara-me (pret. mais-que-perf. simp. ind.), tinha-me lavado (pret. mais-que-perf. comp. ind.), lave-me (pres. conj.), lavasse-me (pret. imperf. conj.), tivesse-me lavado (pret. mais-que-perf. conj.), lava-te (modo imperativo);
– com o pronome mesoclítico (no interior ou no meio do verbo) – usado com as formas de futuro do presente (ex.: lavar-me-ei) ou de futuro do pretérito (ex.. lavar-me-ia);
– com o pronome proclítico (antes do verbo)- utilizado nos seguintes casos:
i) nas frases negativas (ex.: Não me lavo);
ii) nas frases iniciadas por pronomes ou advérbios interrogativos (ex.: Quem é que te lavou?);
iii) nas frases começadas por palavras exclamativas (ex.: Que bem que te lavaste!), bem como nas frases que exprimem desejo (ex.: Espero bem que te laves!);
iv) nas orações subordinadas (ex.: quando me lavei…);
v) com o gerúndio regido da preposição «em» (ex.: em me lavando, logo saio)
vi) quando o verbo vem antececedido dos advérbios «bem, mal, ainda, já, sempre, só, talvez» (ex.: Talvez me lave mais tarde);
vii) quando o sujeito da oração, anteposto ao verbo, contém o numeral «ambos» ou algum dos indefinidos «todo, tudo, alguém, outro, qualquer» (ex.: Ambas as crianças se lavaram);
viii) nas frases alternativas (ex.: ou me lavo ou me penteio).