A expressão «o que» é um pronome interrogativo, quer no quadro da classificação tradicional quer à luz do Dicionário Terminológico (DT).1
Quanto a dividir a frase em orações, a perspetiva tradicional determina a seguinte análise (cf. João Andrade Peres e Telmo Móia, Áreas Críticas da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, 1995, pág. 24):
oração subordinante: «a luz do sol não sabe»
oração subordinada integrante (ou completiva): «o que faz»
A oração subordinada completiva «o que faz» é também uma interrogativa indireta, introduzida pelo pronome interrogativo o que.
É de assinalar, contudo, que no quadro sintático da linguística contemporânea, muitas vezes pressuposto pelo DT, a frase é geralmente analisada do seguinte modo (cf. ibidem):
frase matriz: «a luz do sol não sabe o que faz»
frase encaixada: «o que faz»
Refira-se, porém, que o DT não regista o termo frase matriz, embora inclua o termo subordinante, com a seguinte definição:
«Palavra, constituinte ou frase de que depende uma oração subordinada.»
Vemos, assim, que, de acordo com o DT, o termo subordinante não se reporta necessariamente a orações de que dependem de outras orações, antes designa um constituinte, oracional ou não («elemento subordinante»), do qual depende a oração subordinada.
Não obstante, consultando uma gramática escolar que adota o DT — M.ª Olga Azeredo et al. Gramática Prática de Português (Lisboa, Lisboa Editora, 2011, pág. pág. 145 e págs. 158/159) —, verifica-se que esta, embora fale de elemento subordinante, acaba por classificar como oração subordinante a sequência não encaixada que contém o elemento subordinante:2
«[...] a oração subordinada pode não estar dependente de toda a oração subordinante, mas apenas de um grupo ou palavra dessa oração, a que chamamos o elemento subordinante.»
Noutra gramática escolar, que aplica também os termos do DT — Cristina Serôdio et al. Nova Gramática Didática de Português (Lisboa, Santillana/Constância, 2011, pág. 177), igualmente se inclui a expressão «oração subordinante»:
«A oração que não está encaixada na estrutura de outra oração denomina-se oração subordinante.»
Em conclusão, com base nas gramáticas escolares citadas, parece-me possível propor a seguinte análise que terá sua validade apenas em contexto pedagógico-didático:
oração subordinante: «a luz do sol não sabe»
oração subordinada substantiva completiva: «o que faz»
1 O termo completiva não consta da Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967, que se considera ainda devedora da abordagem sintática tradicional.
2 Em certas gramáticas tradicionais, considera-se incorreto o que, devendo preferir-se que apenas, sem o a antecedê-lo (cf. J.M. Nunes de Figueiredo e A. Gomes Ferreira, Compêndio de Gramática Portuguesa, Porto Editora, 1976, pág. 226). Contudo, nem na Nova Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 353), de Celso Cunha e Lindley Cintra, nem na Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, pág. 170), de Evanildo se faz essa apreciação, considerando-se que o que é forma enfática do pronome interrogativo que: «não sei que disse a estrela»/«não o que disse a estrela» (cf. Cunha e Cintra, op. cit.).
3 No DT, pode pode ler-se ainda, nas notas do verbete correspondente ao termo em discussão (Subordinante, B.4.4. Articulação entre constituintes e entre frases, B.4 Sintaxe):
«[...] [N]em sempre uma oração subordinada depende de uma frase completa. Em “o João disse que vai chover”, a oração subordinada depende da existência do verbo “disse”. O fragmento “o João disse” não constitui um domínio de predicação completo, pelo que não faz sentido falar-se de oração subordinante neste contexto.»
Ou seja, segundo o DT, as orações subordinadas completivas dependem de elementos subordinantes e não de orações subordinantes, ao contrário do que propõe a análise tradicional.
Não obstante, as gramáticas escolares aqui mencionadas parecem definir um compromisso entre a descrição do DT e a tradicional quando identificam orações subordinantes na análise das subordinadas completivas.