DÚVIDAS

O uso dos infinitivos (pessoal e impessoal)

Queria perguntar se na seguinte frase deveria usar o infinitivo pessoal do verbo sentir sentirmos ou o infinitivo impessoal sentirmo-nos: «Ao lermos um livro, tendemos a sentirmos/sentirmo-nos na pele de uma personagem.» Estou mais inclinada para o infinitivo impessoal, mas ainda assim queria saber a vossa opinião.

Resposta

Em primeiro lugar, convém referir que ambas as formas verbais elencadas pela consulente se encontram no infinitivo pessoal (Lindley Cintra, Celso Cunha, Nova Gramática do Português Contemporâneo, pp. 391-392) ou infinitivo flexionado (Mateus e outros, Gramática da Língua Portuguesa, p. 440).

Exemplos de infinitivo impessoal ou não flexionado: cantar, vender, partir, sentir.

Deste modo, a diferença residirá no facto de o referido verbo se encontrar (ou não) na sua forma pronominal. De facto, se atentarmos nos dois enunciados, reparamos que, no primeiro caso – sentirmos –, o verbo é usado na forma simples, enquanto, na segunda ocorrência – sentirmo-nos –, é utilizado na forma pronominal (cf. Cintra e Cunha, op. cit., p. 405).

Assim, e no que diz respeito à questão concreta da consulente, direi que, neste enquadramento específico, a formulação correta corresponderá efetivamente à segunda proposta – «Ao lermos um livro, tendemos a sentirmo-nos [= a nós próprios] na pele de uma personagem» (cf. Dicionário Priberam).

Finalmente, valerá a pena dizer que, num outro tipo de enquadramento da mesma frase, seria possível utilizar o referido verbo numa aceção transitiva direta (isto é, verbo + complemento direto), ex.: «Ao lermos um livro, tendemos a sentir(mos) a pele de uma personagem». Porém, neste caso, o valor semântico do enunciado seria, como é fácil de constatar, bastante diferente daquele que é proposto pela estimada consulente.

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