O procedimento adotado pelo Dicionário Priberam é coerente e baseia-se num princípio ortográfico que hoje só se aplica a poucos casos.
Até 1973, empregava-se o acento grave em vogais abertas que ocorressem em sílabas átonas, ou seja, o acento assinalava uma vogal que, apesar de átona, era aberta. Figurava, por exemplo, na grafia de advérbios de modo derivados de adjetivos com acentuação esdrúxula: rápido → ràpidamente (hoje rapidamente). Estas grafias desapareceram em grande parte na sequência de uma alteração feita em 1973 ao acordo ortográfico de 1945. Note-se, porém, que o acento grave continua a ser usado nas contrações à, àquele/àquela/àquilo e àqueloutro/àqueloutra.
Em relação ao uso dos acentos grave e agudo nas indicações de pronúncia, é totalmente legítimo o procedimento do Dicionário Priberam: o acento grave da notações |èç| e |èt| indica um e aberto em sílaba átona como ocorre em objeção, abjeção, efetuar, projetar; o acento agudo da notação |ét|, um e aberto em sílaba tónica em dileto, projeto e correto.1
Evidentemente que esta notação da pronúncia, que se encontra em obras da dicionarística portuguesa mais antiga, é muito diferente da utilização dos símbolos do Alfabeto Fonético Internacional (AFI): neste código, [e] transcreve o chamado e fechado de dedo; [ɛ], o e aberto de fé; [ɨ], o chamado e mudo que, no português europeu, ocorre sempre em posição átona, como sucede em metal; e [ẽ], para indicar o e nasal de casos como vento e ventania. Quanto à notação do acento tónico, representa-se este pelo sinal ˈ, geralmente colocado imediatamente à esquerda da representação da sílaba tónica: [ɔbʒɛˈsɐ̃w̃].
1 O consulente mantém o c mudo, conforme a ortografia anterior à que vigora atualmente, a do Acordo Ortográfico de 1990: objecção, abjecção, efectuar, projetar, dilecto, projecto, correcto.