A forma «há de ser» não é propriamente um arcaísmo. Historicamente, é uma construção alternativa ao futuro do presente, que, no período de transição do latim ao português, correspondia a uma perífrase com haver: «há ser» e «ser há» (> será)*. As duas variantes da construção com haver especializaram-se, e, embora «há-de ser» e será refiram situações futuras, atribui-se a «haver de» um valor modal que marca uma intenção ou um vaticínio sobre uma situação ou acontecimentos futuros («hei de vencer»; «há de haver fome»).
* «O FUTURO DO PRESENTE e o FUTURO DO PRETÉRITO são formados pela aglutinação do INFINITIVO do verbo principal às formas reduzidas do PRESENTE e do IMPERFEITO do auxiliar haver: amar + hei, amar + hia (por havia), etc.» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 391). Note-se que haver como auxiliar numa perífrase verbal pode ser usado noutros tempos verbais, com novas significações: «seguido de de mais pres. do infinitivo de outro v., exprime futuridade promissiva com idéia de 1) `desejar com intensidade´: haveremos de lá chegar; hás de pagar o mal que fizeste; há de haver dinheiro para nós ali 2) `ter fatalmente de´: todos havemos de morrer 3) `ser do propósito (de alguém)´: haveríamos de comer todas aquelas delícias; decidiu que haveria de ir; nunca hei de lá voltar c) se o v. está num tempo passado, o valor promissivo atenua-se, passando a expressar um dever ou uma possibilidade ou uma dúvida: por que havia ela de empanturrar-se de doces?; se tivesse estado entre nós antes, haveria de nos apoiar agora; haviam de ser umas onze horas; haviam de ali viver umas cinco pessoas (Dicionário Houaiss, 2001, s.v. haver; manteve-se ortografia original).