É uma tendência que já devia existir na língua à data da independência do Brasil1.
Hoje em dia, no português falado em Portugal, nota-se que é frequente ocorrer ele/ela no lugar de o/a depois de verbos de perceção (ver, ouvir) e verbos causativos (mandar, deixar):
(1) Vi ele maltratar o cão. [em vez do correto «vi-o maltratar o cão]
(2) Deixou ele ir sozinho ao médico. [em vez do correto «deixei-o ir sozinho]
Observe-se, porém, que, mesmo coloquialmente, é rara ou nula a ocorrência de ele/ela com a função de complemento direto em frases simples e orações finitas. Na fala espontânea, diz-se, portanto, «vi-o/a ontem» e «deixei-o/a aqui».
Parece, portanto, que o português coloquial do Brasil generalizou esta tendência a todos os contextos de objeto direto.
1 Cf. Gramática do Português, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2013-2020, p. 2257.