A palavra assentamento parece ter sido usado como tradução literal do espanhol asentamiento, que, entre outras aceções, também significa «lugar em que se estabelece alguém ou alguma coisa» (ver Diccionario de la Lengua Española, da Real Academi Espanhola).
A palavra portuguesa correspondente, assentamento, pode, como a espanhola, ser usada em referência a um «núcleo de povoamento» (Dicionário Houaiss), o que deixa supor que a tradução literal não corre o risco de ser classificada como uma opção induzida por falsos amigos de duas línguas diferentes. Note-se, porém, que este significado não é assim tão frequente nos dicionários elaborados em Portugal, não estando registado, por exemplo, no dicionário da Porto Editora, nem no da Priberam, nem no da Academia das Ciências de Lisboa. Tudo isto poderia sugerir que, em Portugal, assentamento não pode ou não costuma ter grande uso como sinónimo de povoação.
Mas a verdade é que a palavra tem utilização na investigação que, em História e Arqueologia, é produzida em língua portuguesa. Além disso, no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, registam-se duas aceções que parecem próximas do significado da palavra espanhola: «sítio ou situação de uma extensão de terra», «habitação, morada, residência». Estes significados aparecem ainda no Dicionário Geral e Analógico da Língua Portuguesa (Edições Ouro, Porto, 1948), de Artur Bivar, que define assentamento também como «assento, lugar onde fica depositada qualquer coisa, ou onde se fundou uma cidade» e «lugar de residência permanente; morada»*.
É, portanto, aceitável o emprego de assentamento como termo de sentido genérico, podendo este depois ser especificado como colonato (pelo menos, no português de Portugal)**, por exemplo, quando se fala dos territórios de Israel e da Palestina. Cabe aqui, porém, fazer uma última observação: quando se trata da chamada «política de colonatos» (um ponto quente da atuação do Estado de Israel), o espanhol dispõe da expressão «política de asentamientos»; neste caso, convém usar a expressão portuguesa, «política de colonatos», e não a tradução literal «política de assentamentos».
* No dicionário em referência, atribuem-se igualmente a assento as aceções de «sítio, residência» e «[...] assentamento (de uma cidade ou outra povoação)».
** Uma consulta de páginas da Internet permite concluir que, no Brasil, não se usa a expressão «política de colonatos», mas, sim, outras formulações, sobretudo «política de assentamentos», e, mais raramente, «política de colônias». Refira-se, aliás, que, na variedade brasileira, o normal é referir os colonatos criados em Israel e na Palestina pelo termo assentamento (comunicação pessoal do consultor Luciano Eduardo de Oliveira).