DÚVIDAS

O que exclamativo + adjetivo

Em regra, para intensificar uma qualidade ou estado (adjetivos), utiliza-se advérbios.

Ex.: muito linda! ( adv + adj ) quão linda! ( adv + adj )

Há também a possibilidade de usar um advérbio para intensificar outro.

Ex.: muito longe. ( adv + adv ) quão longe. (adv + adv )

A dúvida persiste na utilização do que como advérbio.

Ex.: Que linda! (neste caso o que equivale ao quão, ou seja, advérbio de intensidade ligado a um adjetivo).

Que felicidade em vê-la! ( já neste exemplo o que não pode ser um advérbio, pois o termo está modificando um substantivo abstrato).

Que amor de pessoa.

Após breve pesquisa, obtive a seguinte conclusão: O que é um pronome indefinido, servindo para intensificar o grau do substantivo abstrato felicidade.

Gostaria de mais esclarecimentos sobre o assunto e se estou correto.

Resposta

Sobre «Que linda!», não há dúvida de que o vocábulo que, equivalente a quão, modifica o adjetivo linda, de modo que só pode ser classificado como advérbio, pois esta classe gramatical é a única que modifica um adjetivo.

– Que linda ela é!

– Quão linda ela é!

Sobre «Que felicidade em vê-la!» ou «Que amor você tem por ela, meu amigo!», não há consenso entre os gramáticos normativos tradicionais brasileiros: a maioria considera como pronome interrogativo, ou pronome interrogativo de valor exclamativo, ou pronome interrogativo empregado em oração exclamativa, como Napoleão M. de Almeida, Evanildo Bechara, Celso Cunha, Celso Pedro LuftCarlos E. Faraco e Francisco M. Moura.

No entanto, pela minha experiência de duas décadas como docente no Brasil, atesto que a esmagadora maioria dos professores de português da atualidade, quando tocam nesse ponto, classificam o que ligado a substantivo abstrato (equivalente a quanto(a/s)) da maneira como fazem os gramáticos Domingos P. Cegalla e Amini Boainain Hauy, a saber: pronome indefinido*. Assim, o que, nas duas ocorrências a seguir, seriam classificados como pronome indefinido (indica, intensivamente, uma quantidade indefinida): «Que (= Quanta) felicidade em vê-la!», «Que (= Quanto) amor você tem por ela, meu amigo!».

Para além disso, vale dizer que a gramática Amini Boainain Hauy faz uma consideração bastante interessante em seu livro Gramática da língua portuguesa padrão (2014: 1009):
 
«Se entre o que e o substantivo que se lhe segue estiver subentendido um adjetivo, analisar-se-á o que como advérbio (= quão) intensificando o adjetivo. (...)

 

 

Que prova, hein? (fácil, difícil, terrível etc.)

Assim, comparem-se:

Que linda tarde! = Quão linda tarde!

Que prova, hein? = Quão (difícil, fácil, terrível) prova, hein?»

Sempre às ordens!
 
* Por ser brasileiro o consulente, usou-se na resposta a nomenclatura gramatical brasileira.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa