Embora, à primeira vista, possa parecer um caso de derivação parassintética ou parassíntese, a realidade é que não o é. Segundo o Dicionário Terminológico e a Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus et alii, a parassíntese, geralmente «descrita como um processo de prefixação e de sufixação simultâneas», destaca-se como caso especial de derivação por ser «particularmente frequente na formação de verbos deadjetivais (formados a partir de um adjetivo) ou denominais (formados a partir de um nome)» (Mira Mateus et alli, op. cit., p. 952).
Repare-se que este tipo especial de derivação ocorre em casos como os de enfraquecer, esbracejar, apadrinhar, ensonar, no qual a afixação de dois elementos é simultânea: en- + fraqu- + -ecer; es- + brac- + -ejar; a- + padrinh- + -ar; en- + son- + -ar.
Enfraquecer não deriva de "fraquecer" nem de "enfraco", assim como esbracejar não deriva de "bracejar" nem de "esbraço", do mesmo modo que o verbo apadrinhar não deriva de "padrinhar" nem de "apadrinho" e ensonar não resulta de "sonado" nem de "ensono". De facto, a sua base é, respetivamente, fraco, palavra à qual se juntam ao mesmo tempo en- e -ecer; braço, a que se junta simultaneamente es- e -ejar; padrinho, a que se acrescenta a- e -ar; e sono, a que se junta en- e -ar.
Assim, a palavra despersonalização deve ser analisada como palavra derivada por sufixação – despersonaliza(do) + -ção –, considerando que a sua base é o verbo despersonalizar (este, por sua vez, derivado de personalizar por prefixação = des- + personalizar). Não se trata, portanto, de parassíntese, porque, na análise de despersonalização, não se admite que o prefixo des- e o sufixo -ção se associem ao mesmo tempo à base personalizar.
Nota: Sobre este tema, aconselha-se a consulta das seguintes respostas: O conceito de parassíntese, Acerca da parassíntese, novamente, Parassíntese em envergonhar e derivação em desencaminhar, Derivação parassintética.