«Claro que eu, aqui [na Madeira], não subscrevo a política da República. E procurei
passar a mensagem da minha desmarcação, e mesmo oposição, a essa política».
Expresso, Primeiro Caderno, entrevista a Alberto João Jardim, 25 de julho de 2014, p. 10.
O que ali se queria escrever – por erro do próprio ou do jornalista que transcreveu a entrevista com o presidente do Governo Regional da Madeira – era demarcação, significando separação, distanciamento, afastamento, do presidente do Governo Regional da Madeira em relação às políticas do governo nacional e não desmarcação.
Resumindo o que de muito temos no Ciberdúvidas (ver Textos Relacionados):
Demarcação e desmarcação são palavras parónimas, ou seja, com fonéticas próximas mas com diferentes sentidos e grafias. Demarcar, na frase acima, significa «distanciar-se», justamente o que Alberto João Jardim fez relativamente às políticas do PSD nacional. Desmarcar significa tão-só «tirar as marcas». Os sentidos podem mesmo chegar a roçar a antonímia, já que ao demarcarmos, ou distanciarmo-nos, acabamos por traçar novos limites/marcas, enquanto ao desmarcarmos retiramos as marcas.
Admito que a confusão possa advir de alguma similaridade gráfica e mesmo de sentido dos prefixos des- e de-, em que ambos podem significar separação/afastamento (ex.: descascar, desmascarar, no caso do des-; e derivar, demover, no caso do de-), e quiçá ser potenciada pelo socioleto do futebol, em que desmarcar é «furtar-se à marcação do adversário», e, como tal, afastar-se, distanciar-se. Recorde-se que a marcação é uma técnica em que um jogador tem por missão «marcar» um adversário, ou seja, acompanhar a sua ação dentro de campo, criando-lhe obstáculos. Quando o jogador marcado consegue fugir à «marcação» do seu opositor diz-se que se «desmarcou».